As fabricantes de bebidas alcoólicas estão de olho num novo barato.

A Constellation Brands, que distribui a cerveja Corona nos Estados Unidos, acaba de comprar uma participação minoritária na Canopy, fabricante de maconha medicinal canadense, no que está sendo lido pelo mercado como o primeiro movimento de duas indústrias naturalmente fadadas à consolidação. 

A Constellation está pagando US$ 191 milhões por uma fatia de 9,9% na Canopy, tornando-se sua maior acionista individual – e, pelo acordo, ainda pode dobrar sua participação nos próximos anos. A Canopy é também a maior empresa de cannabis listada em Bolsa.

Com o negócio, as ações da Canopy, que são negociadas em Toronto sob o ticker WEED, subiram 23% para sua máxima histórica, e a expectativa de que outros negócios do tipo possam estar a caminho puxou as ações de diversas empresas de cannabis. 

Para as fabricantes de bebidas, a entrada no mercado da maconha é praticamente um hedge. Enquanto o consumo de cannabis cresce há mais de uma década, especialmente entre os jovens de 21 a 25 anos, a venda de bebidas alcoólicas na América do Norte está estagnada.

Além disso, mais do que produtos associados, a maconha e o álcool substituem um ao outro. Em março deste ano, um estudo da Deloitte descobriu que 80% dos usuários raramente consomem bebidas alcoólicas junto com maconha. O motivo: as pessoas procuram a maconha para a mesma finalidade do álcool – se divertir e socializar. 

“Se a maconha for legalizada no Canadá, veremos um declínio nas compras de cerveja, vinho e destilados”, disse Mark Whitmore, um dos autores do estudo. “A indústria de bebidas vai ter que pensar sobre como se antecipar a essas implicações”.

A entrada da Constellation na Canopy vai ser monitorada de perto pelos concorrentes. A escolha do Canadá foi cirúrgica: o uso medicinal da maconha é lícito em todo o país e o recreacional deve ser liberado até julho de 2018.

Em entrevista à Bloomberg, o CEO da Canopy, Bruce Linton, disse que inicialmente as duas empresas vão desenvolver bebidas à base de maconha – sem álcool na receita.  A comercialização efetiva e a oferta de novos produtos deve ser faseada, conforme forem surgindo as aprovações legais.

A Constellation já deixou claro que não vai vender produtos à base de cannabis em locais onde não haja aprovação “por todos os níveis do governo”  – o que, por enquanto, exclui os Estados Unidos da base.

Oito Estados americanos, incluindo a Califórnia e o Distrito de Columbia, já permitem o uso recreacional – o que significa que um em cada cinco americanos pode comer, beber, vaporizar ou fumar o produto como bem entenderem. Outros 21 Estados já liberaram o uso medicinal. Mas a legislação federal ainda proíbe a maconha. 

O apoio à legalização, no entanto, tem aumentado. Uma pesquisa feita na semana passada pelo Gallup aponta que 64% dos americanos são favoráveis à liberalização do uso recreacional da planta, o maior nível desde quando a consulta começou a ser feita, em 1969.