RECIFE — Logo que foi fundado, o Mundo do Cabeleireiro fazia jus ao nome.  Nenhuma madame se aventurava a visitar a humilde lojinha no Centro do Recife para comprar seus esmaltes, tinturas e alisantes.  Era o cabeleireiro que ia lá comprar o produto, para depois aplicá-lo nas senhoras endinheiradas de bairros nobres como Boa Viagem ou Casa Forte.

Mais de 20 anos depois, o Mundo mudou.  

10796 67b49c74 ed78 0f4f 0d3b 72b2077ca78cA pequena loja de dona Helena se tornou uma rede de varejo especializado, ousou sair da zona do conforto de sua cidade natal para competir no exigente mercado de São Paulo, e vai terminar o ano com 52 lojas e mais de R$ 200 milhões em vendas.

Até o começo de 2020, o Mundo do Cabeleireiro vai chegar a Ribeirão Preto, Jundiaí, Campinas, Piracicaba e São José dos Campos, além de abrir lojas em shoppings como o Center Norte, o VillaLobos e o Metrô Santa Cruz.

E se no início da rede os clientes cabeleireiros respondiam por até 30% das vendas, hoje eles não chegam a 5%.

Em parte graças às lojas abertas este ano, o faturamento do Mundo deve crescer 40% em 2020, ano em que a expansão da rede vai continuar: o objetivo é dobrar as vendas até o fim de 2021 e o número de lojas, até 2022.

“Queremos consolidar São Paulo, mas nosso projeto é nacional,” diz o CEO Celso de Moraes, filho da fundadora e que dirige a empresa com sua irmã, Marina.  

Numa época em que a internet gerou uma crise existencial no varejo físico, a rede dos Moraes tem conseguido evitar a disrupção pela natureza do seu negócio.

“O cosmético é experiência. A mulher quer ir na loja ver, passar o esmalte, falar com a vendedora, conhecer as novidades,” diz Marina.  “A internet é boa para a venda recorrente, mas o nosso mercado é muito em cima de lançamentos; a mulher vai conhecer o produto na loja. A experiência é muito relevante.” 

Para garantir essa experiência, o Mundo aposta em lojas amplas, com aromas perfumados e frequentemente com uma área de salão de beleza onde a cliente pode agendar a aplicação de um produto. “Ninguém entra na loja precisando comprar,” diz Marina. “A cliente entra aqui querendo relaxar. Isso é um entretenimento pra ela.”

10797 ba6b2420 33cc 9df6 38d9 f568e4daf583Para ganhar corpo, o Mundo teve que mudar sua cadeia de suprimentos.  Antigamente, os Moraes trabalhavam com as grandes multinacionais, mas não tinham força alguma com elas.  Quando começaram a procurar fornecedores pequenos e médios, “a relação passou a ser de igual pra igual.” 

“A gente fala, ‘eu te dou espaço, te dou vitrine, mas me dá margem!”, e eles falam, ‘é isso que eu quero,’” diz Celso.  

Hoje, a rede compra de cerca de 200 fornecedores e abastece cada loja com cerca de 9.000 produtos diferentes.  

No início de 2018, um fundo administrado pela Vinci Partners injetou R$ 30 milhões no Mundo do Cabeleireiro a um valuation de R$ 100 milhões (pre money). 

“Casar com um private equity não foi uma questão de dinheiro,” diz Celso, notando que, nos 10 anos antes da Vinci, a empresa cresceu o faturamento 20% ao ano. “A gente queria um parceiro intelectual para nos ajudar com coisas que ia demorar anos pra gente aprender sozinho.”

Há menos de dois anos, Celso e Marina faziam de tudo na empresa — de pensar no marketing a assinar cheques — ajudados apenas por alguns assistentes. Agora, têm cerca de mil funcionários.

Os Moraes dizem que não estão pensando em captar mais recursos, mas admitem que mais capital permitiria acelerar o crescimento.  Quando a hora chegar, estarão prontos: o balanço da empresa já é auditado há três anos, dois deles pela KPMG.  Marcelo Silva, o ex-CEO do Magazine Luiza e também pernambucano, é um conselheiro da família.
 
Em São Paulo, a rede enfrentará a concorrência de nomes como Ikesaki Cosméticos — dona de nove megastores — e Sumirê, com mais de 50 lojas. Nenhuma delas, no entanto, costuma ter lojas em shoppings, o foco da rede recifense.