Reconhecer os erros requer coragem – e o sellside aplaudiu Guilherme Benchimol por finalmente fazê-lo.
Em sua primeira reunião presencial com analistas que cobrem a empresa desde o IPO, o fundador da XP admitiu ter cometido diversos erros durante o bull market dos últimos anos.
Segundo ele, a XP contratou demais, o que foi agravado pelo fato da maioria dos funcionários ter sido admitida durante a pandemia, reduzindo a capacidade do management de selecionar os melhores candidatos.
A política de home office também foi um erro, disse Benchimol, e teve que ser revertida porque “não funcionou como o esperado e impactou a cultura”. Além disso, o modelo de partnership da companhia precisou ser modificado uma segunda vez, porque também não estava funcionando bem.
O ‘mea culpa’ não parou por aí: Benchimol também admitiu que não interagiu o suficiente com os investidores e sinalizou que fará mais reuniões com o sellside daqui para frente.
“Na realidade, a última vez que nos encontramos com ele foi em 2017, quando a XP decidiu fazer o IPO. Já faz seis anos…” escreveu Eduardo Rosman, do BTG. “É pouco comum para as companhias admitirem seus erros, então agradecemos Benchimol por isso.”
Na reunião também estavam presentes o CEO Thiago Maffra, o CFO Bruno Constantino, e o CEO do Banco XP, José Berenguer.
O UBS disse que o management da XP reconheceu que as receitas core ficarão pressionadas pelo cenário macro no primeiro semestre, mas que no médio prazo as perspectivas são “inspiradoras” dado o “gradual retorno da confiança dos investidores de varejo, a melhora no mix de receitas no core business e a expansão para novas verticais.”
A XP também disse que “não descarta outro programa de recompras de ações para melhorar sua alocação de capital.”
A companhia reforçou o guidance de um lucro líquido de R$ 3,8 bilhões a R$ 4,4 bilhões para o consolidado do ano que já havia passado recentemente.
A projeção leva em conta a expectativa de que as receitas core fiquem flat no ano, que as novas verticais cresçam a receita em R$ 700 milhões a R$ 1 bilhão, e que o SG&A fique entre R$ 5 bilhões e R$ 5,5 bilhões.
A projeção foi vista como otimista pelo sellside, que tinha números mais conservadores no modelo.
A XP também passou sua visão para o primeiro trimestre do ano, que deve se manter estável em relação ao quarto tri do ano passado — o que também foi visto como positivo pelos analistas, que esperavam uma queda no top line.
“Do lado mais negativo, a XP espera que a captação líquida perca ritmo ainda mais, apesar da sazonalidade normalmente favorável,” escreveu o analista Marcelo Telles, do Credit Suisse.
Na reunião, Benchimol destacou as mudanças no programa de partnership. Antes do IPO, a XP tinha um modelo em que os sócios recebiam ações da XP Controle, a holding que controlava a empresa. Depois do IPO, mudou para um modelo tradicional de Restricted Stock Units (RSUs), em que os sócios recebiam ações diretas da companhia, mas com um vesting de cinco anos.
Agora, a XP está adotando o ‘matching model’, semelhante ao RSU, mas no qual os sócios têm que comprar as ações da XP (e a companhia dá mais ações na mesma quantidade).
“Isso aumenta o ‘skin in the game’ e alinha o interesse dos sócios com os objetivos de crescimento de longo prazo,” escreveu Telles, do CS.
Segundo Benchimol, os cerca de 700 sócios (42 novos) estão animados com o novo modelo. O fundador também ressaltou a importância de reciclar sócios, o que garante que a partnership “continue dinâmica e incentivando os sócios a performar em níveis elevados.”