Nem só de tecnologia vive a Nasdaq, mas também de frutas tropicais ainda ausentes do Ibovespa.

A Mission Produce — a maior produtora de abacates dos Estados Unidos — estreou na Bolsa americana semana passada valendo US$ 800 milhões. 

A Mission vende mais de 1,5 bilhão de abacates por ano — 60% mais que seu concorrente mais próximo — abastecendo varejistas como o Kroger e o Walmart, além de centenas de redes de restaurantes. 

A companhia trabalha só com uma variedade de abacate chamada Hass, que é menor e tem uma casca rugosa e escura — quase preta — quando está madura. (O nome vem de Rudolph Hass, um horticultor que passou a se dedicar a abacates em 1925 depois de ver numa revista a foto de um abacateiro com dólares no lugar das folhas.)

Boa parte dos abacates Hass dos EUA são cultivados no sul da Califórnia — por sorte, as fazendas escaparam dos incêndios gigantescos deste ano. Além disso, a Mission tem mais de 10 mil acres no Peru e compra abacates de produtores no México, Colômbia, Guatemala, Chile e África do Sul.

Por conta desse sourcing global, a Mission consegue ter abacates maduros (“ready-to-eat”) o ano todo, o que ajuda as vendas.

Rico em fibras, magnésio e outros nutrientes, o abacate Persea americana no reino vegetal é o que os americanos chamam de um ‘superfood’ e, com a pandemia, a tendência das pessoas a adotar hábitos saudáveis beneficiou a Mission.


Ainda assim, para o IPO sair a empresa teve que reduzir sua ambição de preço: a oferta saiu a US$ 12, abaixo da faixa que ia de US$ 15 a US$ 17. 

Fundada em 1983 por Steve Barnard, a Mission cresceu impulsionada por um hype que se criou em torno do fruto. Em parte por mérito do próprio Steve (um dos precursores de um movimento conhecido como ‘Avocado Revolution’), os americanos acordaram nos últimos anos para os benefícios do abacate — começando a usá-lo em receitas populares como o Avocado Toast. 

Mas o potencial de crescimento ainda está lá. Hoje, os EUA consomem 3,6 kg de abacate per capita por ano, comparado a 6,8 kg no México.

O setor movimenta US$ 6,5 bilhões/ano nos EUA — quase metade de todo o mercado global — mas Steve acredita que vai passar de US$ 8 bilhões em 2023, crescendo numa taxa composta anual de 5,5%. 

A Mission já captura uma parcela relevante desse mercado: ano passado, teve uma receita de US$ 883 milhões e lucro líquido de US$ 72 milhões.

Grandes redes de supermercados representam 69% das vendas, com a Kroger, o maior cliente, sendo responsável por 15%. O segmento de foodservice — redes como o Chipotle Mexican Grill — é 16% do faturamento.

Além de dobrar a operação americana, Steve quer crescer em países onde o fruto ainda não é tão popular. A Mission vai usar os recursos do IPO para expandir principalmente na Ásia e Europa, onde ele diz que o consumo de abacates é similar ao dos EUA 25 anos atrás. 

“Podemos fazer esse mesmo movimento globalmente,” Steve disse à Bloomberg. “A hora é agora para pisar no acelerador e ir mais rápido.”