Depois da implosão das ações das empresas de ecommerce nos últimos meses, o BTG Pactual continua bullish no setor, e publicou um relatório de 43 páginas para explicar por quê.

Os analistas estão mantendo a visão de longo prazo de que o ecommerce ainda representa pouco das vendas do varejo no Brasil e deve crescer a partir da melhora no serviço prestado pelas empresas.

No entanto, o cenário de curto prazo deve continuar marcado por ruído e volatilidade. Em todo o mundo, as ações do setor caem por causa da inflação e da alta dos juros. No Brasil, dizem os analistas, há fatores adicionais de tensão, como a desaceleração das vendas de eletrônicos, o aumento da competição – inclusive com mais players internacionais – além de provável queda nas margens das empresas.

Nesse cenário, após o recente sell-off no ecommerce, o BTG diz que ainda vê upside para todas as empresas que acompanha, mas revisou significativamente as estimativas para o preço-alvo em 2022, levando em consideração um aumento do custo de capital (em média de 300 pontos-base) e estimativas menos róseas para os resultados no curto prazo.

O BTG manteve sua recomendação de compra para Magalu e Americanas. No caso da Magalu, os analistas reduziram o preço-alvo em quase 40%, de R$ 26 para R$ 16, um valor ainda com upside de 119%.  O papel negocia hoje ao redor de R$ 7,60, ou 0,8x EV/GMV 2022. O MercadoLivre, por exemplo, negocia a 1,2x.

Já o valuation de Americanas passou a incorporar a reestruturação da empresa e também o Hortifruti, gerando um preço-alvo de R$ 45, com upside de 51%. A Americanas, hoje ao redor de R$ 30, negocia a 0,4x EV/GMV 2022.

Já a Via – a antiga Via Varejo – teve a recomendação rebaixada para ‘neutra’ por conta da superexposição da empresa a eletrônicos e eletrodomésticos e das provisões e incertezas sobre créditos tributários que surgiram após a última divulgação de resultados.

O preço alvo foi reduzido de R$ 21 para R$ 8, um corte de 62%. O papel negocia ao redor de R$ 5,90, ou 0,4x EV/GMV 2022.

Para os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Victor Rogatis, o ecommerce no Brasil não é um mercado de  “winner takes all”, e três empresas – MELI, Magalu e Americanas – têm grandes chances de concentrar 80% do mercado no futuro.

Para eles, o senão é que essas companhias não serão tão lucrativas quanto aquelas de mercados maduros, em que um player tem 50% das vendas.

O caminho para a liderança não é simples, já que a todo tempo as empresas precisam entender e acompanhar as mudanças de necessidades dos clientes. A companhia que conseguir crescer mantendo margens será vencedora no setor.

“Não será fácil continuar crescendo como startups e melhorando margens num mercado altamente competitivo. As empresas terão sucesso com propostas de valor diferenciadas e de engajamento dos clientes por meio de investimentos em conteúdo, vendas sociais, maior sortimento e contínua melhoria de serviços para maior monetização do tráfego”, diz o relatório.

Para 2021, o BTG estima um crescimento de 26% do ecommerce no Brasil – depois de +66% no ano passado, o annus horribilis da pandemia. MELI, Magalu, Americanas e Via respondem por mais de 2/3 do mercado.

A partir de 2022, o BTG espera um crescimento médio de 24% ao ano até 2025, quando o mercado atingirá R$ 505 bilhões ou 20% do total das vendas no varejo no país.

Os analistas do BTG estimam ainda um mercado adicional de R$ 88 bilhões para players de nicho como Petz, Arezzo, Grupo Soma e Centauro.