Quando Eike Batista começou a série de empresas que se transformaria no Grupo EBX, o empresário inicialmente resistiu a entrar em minério de ferro.
“Quem dorme com elefante acorda amassado…” Eike dizia em referência à dominância de gigantes como Vale, Rio Tinto e BHP no mercado da commodity.
Mas Joaquim Martino conseguiu convencer o chefe, argumentando que Eike poderia se diferenciar dos ‘elefantes’ pela qualidade dos ativos, buscando minas de pelotas e lump ore, minérios de altíssimo teor de ferro.
Joaquim tinha credenciais inatacáveis: com 25 anos de Vale nas costas, havia trabalhado na construção do sistema Carajás ombro a ombro com Eliezer Batista, o pai de Eike e CEO que fez história na Vale.
Agora, depois de se curar de um câncer, Joaquim está de volta como CEO da MMX para tentar liderar o que pode ser o turnaround épico de uma empresa à beira da falência. A companhia, o primeiro IPO do grupo EBX, entrou em recuperação judicial em 2017.
No mês passado, as ações da MMX, que negociavam a R$ 1, explodiram para R$ 36 em questão de dias. Na raiz do rali: uma petição da empresa ao juiz da RJ pedindo a reversão de um arrendamento da mina de Corumbá, que a companhia alega não ter respeitado regras de governança para decisões desta natureza bem como os protocolos da RJ.
Sem comunicar ao juiz ou ao conselho da empresa, um executivo da MMX havia prorrogado o arrendamento para a Vetorial Mineração, que já arrendava a mina desde 2014 e consome parte de sua produção. Nos cálculos de Joaquim, a mina gera cerca de R$ 200 milhões de EBITDA por ano; a Vetorial paga R$ 500 mil por mês à MMX.
“Foi quase uma cessão gratuita,” o CEO disse ao Brazil Journal. (A Vetorial mantém que seu contrato é juridicamente perfeito e diz que a retomada da mina pela MMX é “impossível”.)
Como a MMX tem uma dívida de R$ 700 milhões, só o fluxo de caixa de Corumbá seria suficiente para quitar tudo em três anos e meio.
A petição vem num momento crítico para a MMX, cujo falência foi pedida pelos credores. O julgamento estava marcado para o dia 4 deste mês, mas foi adiado para fevereiro.
“Estou bastante confiante de que o arrendamento será anulado pela Justiça e o ativo revertido para a companhia,” disse Joaquim. “Com isso, a MMX deve chegar a um acordo com seus credores, o que tornará o julgamento da falência desnecessário.”
Se conseguir virar esta página, a MMX ainda tem um outro ativo a ser desenvolvido: a mina de Bom Sucesso, em Minas Gerais, que produz pellet feeds de alto teor de ferro.
Joaquim disse que, depois de resolver a RJ, a MMX “poderá tocar um conjunto de projetos. Quero deixar essa empresa sólida, segura e com opções para crescer. Mas antes de pensar no futuro, precisamos resolver o passado.”
Um turnaround bem sucedido da MMX pode se tornar o primeiro capítulo de uma volta de Eike ao mundo empresarial, depois que o fundador do grupo EBX acertou suas contas com a Justiça.
Na quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal homologou o acordo de colaboração premiada pelo qual Eike pagará R$ 800 milhões em multas. Ele é dono de 52% da MMX.
Ao longo dos últimos anos, ao mesmo tempo em que cuidava de sua situação jurídica, o empresário estruturou projetos envolvendo fertilizantes, nanotecnologia, infraestrutura e energia de baixo custo, segundo investidores e banqueiros que viram os projetos.
ARQUIVO BJ