A ação da British American Tobacco – a multinacional inglesa que controla a Souza Cruz – despencou mais de 8% ontem depois que a fabricante dos cigarros Camel e Lucky Strike anunciou um writeoff de mais de US$ 30 bilhões no valor de suas marcas americanas.
A ação negocia agora no nível mais baixo dos últimos 12 anos, com a companhia valendo US$ 64 bi na NYSE.
É a primeira vez que uma grande fabricante de cigarros corta nessa magnitude o valor de seus ativos — num reconhecimento de que o longo prazo da indústria não deve ser tão longo assim.
A BAT citou os desafios da economia americana — com a inflação fazendo os consumidores migrarem para marcas mais baratas — e o crescimento das vendas ilegais de vape como os motivos por trás da decisão.
Segundo a empresa, esses fatores, somados ao fato de que as pessoas estão cada vez fumando menos, fizeram a companhia ajustar como algumas de suas marcas eram tratadas no balanço — mudando seu valor para uma duração finita de 30 anos.
Isso resultou num impairment não-caixa de US$ 31,5 bilhões.
O CEO Tadeu Marroco – um brasileiro que assumiu o cargo em maio – disse à Reuters que o movimento é “a contabilidade se ajustando à realidade.”
Tadeu, que começou sua carreira na Souza Cruz há 31 anos, disse ainda que não acredita que os cigarros vão desaparecer em 30 anos, mas que não é mais possível justificar um valor para essas marcas de mais de US$ 80 bilhões.
As marcas alvo do writeoff — que incluem a Newport, Camel e Pall Mall — entraram para o portfólio da BAT em 2017, quando a empresa britânica comprou os 58% que ainda não detinha do capital da Reynolds American.
A transação de quase US$ 50 bi foi parte em cash, parte em ações.
Junto com o anúncio do impairment, a BAT disse que espera que o volume de venda de cigarros cresça 3% globalmente este ano, e que seu market share se mantenha estável — com a queda das vendas nos EUA sendo compensada por um crescimento nos outros mercados.
A BAT também reportou um forte crescimento nas vendas de seus produtos alternativos, e disse que essa vertical já deve atingir o breakeven este ano, dois anos antes do previsto.
A meta da companhia é que esses produtos — como os vapes e as bolsas de nicotina sem tabaco, vendidas como uma forma menos prejudicial à saúde do que consumir a nicotina — respondam por 50% de receita até 2035.
O The Wall Street Journal disse que o writeoff da BAT foi o segundo maior da história recente, atrás apenas do impairment que a AOL fez em 2002 — de US$ 54 bi — relacionado aos ativos que ela comprou da Time Warner dois anos antes.