Em outubro passado, quando o rali da Bovespa ainda não dava sinais de que terminaria num mar de lágrimas, Pablo Spyer teve uma ideia para atrair novos clientes para a Mirae, a corretora sul-coreana onde ele é o diretor geral.

10931 ed997d04 12ef 2790 9cc3 0f0955c52dd4Toda manhã, chegando no escritório antes de todo mundo, Spyer começou a gravar em seu iPhone vídeos de 1 ou 2 minutos, imediatamente publicados no Whatsapp e nas redes sociais. Em pouco tempo, seu “Minuto Econômico” se tornou uma sensação na Faria Lima — arrancando sorrisos do CEO ao estagiário, da XP ao BTG — e fazendo de Spyer o rosto mais simpático de um bull market agora no epílogo.

Nos vídeos, ele comenta o mercado e, no final, acaricia uma estatueta de touro dourada que reina impávida sobre sua mesa. 

“Vaaaai, tourinhoooo!!!” exorta o corretor, cunhando o grito de guerra dos comprados da safra 2016-2020 (e substituído por “Força, tourinho!!!” depois que o mercado virou).

Mas nos últimos dias, a implosão do Ibovespa para pouco mais de 70 mil pontos lançou dúvida sobre o futuro do investidor de varejo na Bolsa e produziu um Spyer mais comedido e reflexivo.

“Eu realmente estou triste pelo investidor pessoa física porque muita gente se machucou nesses dias,” Spyer disse ao Brazil Journal. “Eu acho que de imediato vai ter uma diminuição na velocidade de entrada de novos investidores na Bolsa.”

O “Minuto Econômico” é um mix de Jim Cramer com Aqui Agora, o programa de jornalismo popular que marcou época nos anos 90 e pavimentou o caminho dos Datenas de hoje. 

A câmera nervosa e a notícia ao vivo vêm do Aqui Agora. Mas o estilo, o jeito de falar e gesticular, Spyer copiou de Jim Cramer, o ex-trader e apresentador do Mad Money, o programa sobre Bolsa que faz sucesso há 15 anos na TV americana.

“Eu falo sem vergonha nenhuma: assisto o Cramer todo dia, me inspiro e tento fazer o mais parecido com ele.”

Dono de um carisma transbordante e uma postura gente-como-a-gente num mercado de egos inflados, Spyer é apaixonado pelo mercado financeiro desde os 15 anos, quando fez seu primeiro curso na Bolsa estimulado pelo filme ‘Wall Street’.

Aos 17, começou na corretora Ativa; aos 19 já estava na Laeco, onde foi o broker pessoal de Paulo Guedes — por quem mantém enorme admiração e ainda chama de “doutor”.


Spyer também trabalhou na área de private do Santander, fundou uma gestora em Manaus e foi sócio da Tradewire, a corretora que Álvaro ‘Guti’ Vidigal criou em Nova York para atender brasileiros que queriam investir nos Estados Unidos. Na Mirae ele está há 11 anos, desde que a gigante sul-coreana (cujos  US$ 370 bilhões em ativos globais ultrapassam BTG e XP somados) abriu a corretora no Brasil.

Spyer nasceu numa família que respira televisão. Seu pai, o ex-diretor do SBT Marcos Wilson, foi um dos idealizadores do Aqui Agora e do Telejornal Brasil com Boris Casoy, que ofereceu uma alternativa real ao Jornal Nacional nos anos 90.  Wilson produziu vários pilotos do Minuto Econômico, e frequentemente opina sobre a performance do filho.

Para lançar o programa, Spyer tomou um risco pessoal: sua mesa de renda fixa era contra, seus chefes sul-coreanos sequer sabiam do projeto e muitos diziam que o programa poderia envergonhar a corretora. “Agora todo mundo ama o tourinho. Os caras trazem os amigos pra tirar selfie comigo,” conta Spyer numa conversa às 7 da noite, depois de um dia cada vez mais comum de circuit breakers. “Quebrou gente grande hoje,” diz.

Spyer faz questão de dizer que usa os vídeos para comentar as notícias, e não para sugerir papeis.

“Ninguém ganha dinheiro no day trade. O tourinho gosta é de investimentos,” diz, erguendo o touro no ar com uma mão, um dos 30 de sua coleção. “Eu falo nos vídeos que não sei especular. O cara vê aquilo e fala, ‘se ele não sabe, como eu vou conseguir?’.”

No ambiente tóxico das redes sociais, onde todo mundo se agride e se xinga, ele se orgulha de não ter nenhum hater. “Eu só tenho amor.”

Com o sucesso do programa, Spyer agora estuda lançar um curso sobre o mercado. 

“Curso de prever o futuro e de como ganhar dinheiro tá lotado, charlatão tem de monte. Eu vou montar um curso que não tem aqui. Quero montar um show de 3h30 sobre o que interessa no mercado,” diz ele. “Esses charlatões que não sabem nada atraem mil pessoas, se eu atrair 300 o negócio já tá de pé.”

Mas a ambição para o “Minuto Econômico” vai além.

“Meu sonho é criar a CNBC brasileira, com meu pai como o diretor. Seria algo mais simples, sem grandes estúdios, investimentos… ele até já fez o business plan.”

O touro está ferido, mas o espírito animal segue inabalado.