Não dá pra entender…

1. … Por que o Governo Temer não explicou a herança maldita.  Em outras palavras:  por que Henrique Meirelles não fez, no seu primeiro mês na Fazenda, uma gigantesca campanha de marketing para mostrar ao País a verdade: que Dilma Rousseff entregou uma ‘economia de guerra’? Por que não explicaram ao País que a conta dos desmandos — não só a roubalheira, mas acima de tudo os cheques sem fundo assinados por Dilma e Mantega — será paga por nossos filhos e netos?  Dava pra fazer.  O Brasil tem grandes marqueteiros, e alguns deles nem estão na cadeia!  E se quisesse economizar com os marqueteiros, a Fazenda poderia pedir ajuda ao site Porque.com.br, uma ferramenta que explica ao cidadão, didaticamente e com vídeos, como funciona a economia. E por que ela não funciona.

2.  … Por que a reforma da Previdência não foi mandada ao Congresso há dois meses.  O desenho básico já existe há anos. O economista Fabio Giambiagi, funcionário de carreira do BNDES, estuda o assunto e prega a necessidade de reforma desde antes de Lula ser eleito. Fabio deve ter na gaveta do escritório umas 15 propostas, com graus diferentes de eficácia. Numa ‘economia de guerra’ — ver o ponto 1 de novo —  o Governo teria mais cacife político para fazer uma reforma que pode até ser impopular, mas que acima de tudo é uma reforma justa, já que uma fatia pequena de aposentados e pensionistas privilegiados leva um pedaço desproporcional dos gastos, enquanto o brasileiro médio recebe uma merreca. Gastamos 12% do PIB com a Previdência, o mesmo que a Alemanha e Japão, países que têm o triplo de aposentados. Chama o Boris: “Isto. É Uma. Vergonha.”

3. … Por que Meirelles não pisou no acelerador com uma agenda microeconômica que retire o Estado das costas do empresário que paga impostos e do trabalhador que precisa do emprego.  Dizem em Brasília que a equipe da Fazenda tem muita coisa boa sendo preparada a este respeito, mas na crise atual, tudo deveria ser “pra ontem”, e nada pode vir cedo demais. Há duas semanas, um grande empresário disse ao Brazil Journal, numa conversa por WhatsApp:  “Esse governo não tem a menor ideia do desastre que rola ‘em baixo’, no micro. É um Titanic! A máquina pública está corroendo as bases do país feito um cupim. Os agentes públicos, além de serem radicalmente (e ideologicamente) contra a iniciativa privada, inventaram o tal de ‘no meu entendimento…’ pra ferrar mais ainda a iniciativa privada. De nada adianta ficar discutindo grandes políticas monetárias se a máquina segue, como antes ou até pior, f%$#@ndo a iniciativa privada. Essa conta não vai fechar,” disse ele, antes de prever que “2017 será o pior ano da história, econômica e politicamente falando.”

4.  … Por que Ilan Goldfajn foi tão conservador na queda dos juros, tendo à sua disposição todos os dados que ainda mostram uma economia em coma.  Este fim de semana, ficou claro que a batata de Ilan está assando quando Luis Stuhlberger disse no Estadão que Ilan ‘se amarrou numa camisa de força nessa [ideia] de fazer a convergência da inflação para 4,5% ano que vem.’  Duas páginas adiante, Affonso Celso Pastore, um monetarista acima de qualquer suspeita, escreveu que ‘a política monetária não é feita no vácuo, e quando busca atingir a meta de inflação o Banco Central tem de olhar para os custos de chegar ao objetivo, medidos em termos de perda de [PIB] e de emprego.’  Sem mais.

5. … Como os deputados conseguem ser tão deslocados da realidade. (Eles não tem wifi em casa?) O brasileiro nunca teve o hábito saudável de telefonar para pressionar seus deputados.  Sempre preferimos o conforto da bunda no sofá, os prazeres do Brasileirão, ou, quando nada, a apatia de uma vida política vegetativa.  Assim, quando 2,4 milhões de brasileiros resolvem assinar o mesmo pedaço de papel  — as 10 medidas anticorrupção— , subscrevendo assim a mesma ideia, é porque o tempo desta ideia claramente chegou — como se faltassem evidências de que a corrupção se tornou uma septicemia no corpo político da Nação.  Nestas circunstâncias, tudo que compete aos representantes do povo é perguntar, “Pois não, onde é que eu assino?” Podem-se admitir mudanças sim — ao contrário do que alguns porta-vozes do MP desejariam — porque isso é da natureza do processo legislativo.  Mas quando a Câmara amputa e destroi a maioria das 10 medidas, isso é votar contra o espírito do tempo e estimular a descrença na democracia.

6. … Como Gilmar Mendes pode zombar de 2,4 milhões de assinaturas num país que ainda está aprendendo a desenvolver uma consciência política.  Falando na tribuna do Senado há três dias, o ministro do STF disse: “Eu hoje frequento muito São Paulo, e aprendi que quem contrata o sindicato dos camelôs em uma semana consegue 300 mil assinaturas, portanto não vamos canonizar iniciativas populares.” Tem hora que Gilmar Mendes fala demais.

7. … O que o PSDB acha que tem a ganhar reivindicando ‘dividir a economia’ com Meirelles.  Está claro que o PIB não está respondendo, e o risco de óbito hoje parece ser muito maior do que o de uma pronta recuperação.  Além disso, 80% da equipe econômica reunida por Meirelles já carrega um DNA técnico tucano, se é que podemos generalizar assim. São pessoas que acreditam no funcionamento do mercado e trabalham para garantir um mínimo de racionalidade fiscal depois da lambança dilmista. Esta mesma equipe já preparou a reforma da Previdência (item 2 acima) e está preparando reformas micro (item 3). Ainda assim, os políticos do PSDB parecem achar que sabem alguma coisa que a maioria de nós não sabe. Qual é o ‘upside’ político (em votos) de dividir a tarefa mais inglória do País? Falando num jargão que o mercado financeiro entende: o PSDB ‘entrar no Governo’ agora não equivale a ‘comprar uma opção barata’. Está mais para um ‘value trap’.

8. … Por que o Congresso terá direito a recesso parlamentar.  Enquanto você e eu trabalharemos em janeiro, os nossos funcionários senhores deputados voltarão às suas bases,e o processo de aprovação das reformas vai parar.  Como sabemos, a economia está um brinco, e o País não tem nada importante pra discutir… Renan Calheiros e Rodrigo Maia, mostrem alguma sensibilidade política… and wake the f*** up.

9.  … Por que não estamos falando mais ainda de privatização. Com todo respeito aos avanços que já foram feitos — e a maioria deles veio do Ministério das Minas e Energia — por que é que não estamos discutindo a privatização de Furnas — onde Eduardo Cunha e outras sumidades do PMDB já mandaram (e DES-mandaram mais ainda)? Dá pra vender a nossa metade de Itaipu? Melhor ainda: com um Wilson Ferreira como presidente e regras claras, as Fidelitys e BlackRocks do mundo adorariam comprar um pedaço da Eletrobras. Precisamos do dinheiro, sim, e precisamos, ainda mais, reduzir o número de tetas onde os políticos mamam. Está na hora de acabar com as vacas sagradas.