Nesta semana, quando celebramos os 70 anos do BNDES, é oportuno fazer um balanço da atual gestão, iniciada em meados de 2019, e apontar o caminho que vemos para o banco nos próximos anos.

Nossa estratégia está baseada num tripé: propósito, reciclagem de capital e risco, e fábrica de projetos. 

Com isso em mente, passamos a transformar a maneira do banco atuar, de monopolista para indutor; de monoproduto para plataforma multidimensional, onde o capital financeiro se junta ao capital humano.

O resgate do nosso propósito é uma peça fundamental nesta engrenagem. Sempre tivemos um corpo técnico altamente qualificado, um conhecimento único sobre o Brasil, neutralidade para atuar em todos os cantos do País e interagir com os mais diversos agentes, além, claro, de solidez financeira. Faltava o propósito.

Parece simples, mas isso vai além do chavão que se tornou comum no mundo corporativo. Passamos a nos perguntar recorrentemente: Qual o impacto na última milha? O setor privado pode fazer isso sem nosso apoio? Como este projeto vai melhorar a vida dos brasileiros? Como o banco pode atuar como indutor do crescimento, destravando o PIB potencial?

Levando em conta essas indagações, passamos a gastar sola de sapato e nos abrir mais para o mercado e a sociedade.

Este espírito foi fundamental em 2020, quando o banco trabalhou junto ao Governo Federal e ao setor privado em medidas rápidas de resposta à pandemia, com impacto significativo para a sociedade.

Hoje, vários produtos desenvolvidos naquele período passaram a fazer parte da prateleira do banco, como iniciativas de matchfunding e fundos garantidores.

O segundo pilar de nossa estratégia é a reciclagem de capital e risco. Iniciamos um processo de desinvestimento da carteira de ações – que havia tomado volumes incompatíveis com a atividade bancária, principalmente para um banco de desenvolvimento –  abrindo espaço para a maior assunção de risco de crédito, aumento da carteira de fundos e criação de novos produtos.

Até agora, já são mais de R$ 85 bilhões desinvestidos, sempre com prudência, dentro de critérios estritos de governança e respeitando as condições de mercado. Além do elevado risco que essa carteira representava, o BNDES já não cumpria mais uma função de fomento em diversas das companhias em que era acionista. Seguiremos reduzindo a carteira (que ainda é de aproximadamente R$ 70 bilhões) dentro dos preceitos aplicados até aqui.

Parte destes recursos vem sendo alocada em fundos de investimento, cuja carteira já aumentou 3x e hoje soma R$ 10 bilhões (incluindo o capital comprometido).

Nos próximos anos, pretendemos aumentar a alocação neste importante segmento do mercado de capitais em mais 4x. O efeito multiplicador deste investimento faz com que o impacto do BNDES na ponta possa alcançar R$ 150 bilhões.

Também caminhamos para investimentos no mercado de carbono e ativos ambientais. Criamos, na área de mercado de capitais, um departamento focado no tema.

Na carteira de crédito, criamos novos produtos, seguindo a estratégia de assumir mais risco de projeto, destravar investimentos, atrair capital privado para cofinanciamentos, e atuar em conjunto com o mercado de capitais. Queremos fazer mais com menos, sem onerar o Erário.

Mas o principal legado desta gestão talvez seja a Fábrica de Projetos.

Em menos de três anos, transformamos o BNDES no maior estruturador de projetos do mundo, com uma carteira de cerca de 195 projetos, 28 dos quais já entregues. Somados, são quase R$ 500 bilhões entre outorga e investimento contratado. Isso representa geração de empregos, crescimento, aumento de PIB potencial, impacto na última milha.

Projetos bem estruturados serão posteriormente financiados pelo BNDES, em conjunto com o mercado de capitais. 

Na última semana, a privatização da Eletrobrás foi mais uma conquista da nossa Fábrica e cria a maior empresa privada de energia renovável do mundo. Com capacidade de investimento renovada, a Eletrobras vai permitir que o país aproveite seu potencial exportador de energia limpa e avance na reindustrialização climática.

Acreditamos que a combinação de propósito, inovação financeira (impulsionado pela reciclagem de capital) e projetos bem estruturados é uma alavanca fundamental, inédita e histórica para o crescimento do Brasil.

Lourenço Tigre é CFO do BNDES.