Cedo ou tarde, o conselho de administração da CVC Corp terá que tomar uma decisão espinhosa: recomendar aos acionistas o que fazer em relação aos problemas contábeis descobertos na maior operadora de turismo brasileira.
A decisão vai colocar em teste a governança de uma das poucas corporations da B3.
Uma investigação interna da CVC — conduzida pelo Trindade Advogados e pela firma de consultoria ICTS — concluiu haver indícios de fraude e manipulação de resultados nos últimos cinco exercícios fiscais.
Segundo a companhia, os erros contábeis inflaram os resultados em R$ 362 milhões, com o impacto mais pronunciado aparecendo a partir de 2017, quando o Carlyle já havia deixado a companhia e a CVC passou a ser controlada pelo management.
Os números inflados fizeram a ação mais que dobrar entre o fim de 2016 e de 2018, beneficiando os executivos que tinham stock options à época, especialmente o CEO Luiz Eduardo Falco e o CFO (e mais tarde CEO) Luiz Fernando Fogaça, cujos pacotes de remuneração eram em grande parte vinculados à performance.
Agora, investidores e advogados dizem que a companhia pode recomendar aos acionistas abrir processos cíveis e criminais contra os administradores responsáveis pelas práticas — ou não fazer nada, arriscando-se a ser questionado por algum acionista.
“Tem evidência, tem relatório, e já se sabe que os números estão errados,” diz um investidor. “Se você não acusar, dá a impressão de que você tem algo a esconder ou não está sendo diligente.”
Para o conselho, a decisão é particularmente sensível porque quatro dos atuais conselheiros — Silvio Genesini (o atual chairman), Henrique Alvares (o presidente do comitê de auditoria), Cristina Junqueira e Deli Matsuo — já estavam na companhia durante pelo menos parte do período em que os erros aconteceram. Silvio e Henrique estão no board há quatro anos; Cristina e Matsuo, desde o final de 2018. Todos aprovaram os balanços.
Como o conselho da CVC foi eleito por voto múltiplo, a renúncia de qualquer conselheiro derruba a chapa toda, e há conselheiros intimamente torcendo por uma renúncia para não ter que continuar ali. Os novos acionistas da companhia já fazem sondagens no mercado para eventuais substituições.
Segundo duas pessoas a par do assunto, um dos conselheiros mais irritados é Cristina Junqueira, a cofundadora do Nubank, que como sócia de uma empresa avaliada em R$ 50 bilhões está lamentando o dia em que aceitou o convite para o conselho. Cristina já disse a pessoas próximas ter sido enganada pela administração anterior.
Apesar da saia justa, está crescendo a convicção dentro do conselho de que ele não poderá se furtar a recomendar a responsabilização dos envolvidos.
No final de abril, o conselho da CVC foi renovado parcialmente com a chegada de três novos nomes, indicados pelo Opportunity — hoje o maior acionista com mais de 10% do capital — e pelo Pátria, que tem cerca de 4%. Ambos subscreveram tanto os warrants quanto as sobras do aumento de capital do mês passado, e tem demonstrado confiança na empresa.
A CVC tem assembleia de acionistas marcada para semana que vem.