Em mais um movimento para desfazer uma série de aquisições que deixaram a empresa alavancada, a Natura&Co anunciou hoje que está avaliando vender a The Body Shop, comprada em 2017 por € 1 bilhão e que tem sido um detrator do resultado da empresa brasileira.

A ação da Natura subiu em torno de 2% no pregão de hoje em meio às dúvidas que cercam a operação.

Dentro da própria Natura&Co, a avaliação é que a The Body Shop precisa rejuvenescer a marca, voltar a lançar produtos inovadores, reavaliar sua presença geográfica – suas centenas de lojas estão localizadas principalmente na Europa e na Ásia – e crescer o e-commerce, que responde por apenas 12% das vendas, segundo a Goldman Sachs.

“Tudo isso demanda não apenas investimento financeiro, mas foco gerencial”, diz um executivo do grupo. “Agora vamos avaliar se é melhor fazer esses investimentos ou vender”.

A decisão, claro, depende de preço. Uma estimativa do Itaú BBA indica que a The Body Shop poderia valer em torno de R$ 3,2 bilhões hoje, cerca de 6x EBITDA (o que corresponde a um equity value R$ 1,3 bilhão).

É um valor bastante inferior ao € 1 bilhão de euros de 2017. Mas, mesmo nesse preço, pode ser difícil encontrar compradores.

Para a Goldman, a venda pode destravar valor, mas isso depende do formato, preço — e se ela vai ocorrer de fato.

Os analistas do Citi se mostraram surpresos com o timing do anúncio. O banco destaca que a The Body Shop é um negócio muito diferente da Aesop, empresa de alto crescimento e margens elevadas vendida neste ano por US$ 2,5 bilhões para a L’Oréal.

“Esse anúncio mostra que a empresa tem o aval dos controladores para agilizar a simplificação do business e torná-lo mais rentável e com maior capacidade de gerar caixa, o que é positivo”, diz João Soares, analista de varejo do Citi

Em 2022, a The Body Shop faturou R$ 4,4 bilhões, 24% menos que no ano anterior.

“A Natura está tentando corrigir um erro estratégico ao tentar vender a The Body Shop”, diz um gestor. “Não faz sentido operar num formato tão diferente, com centenas de lojas, numa geografia desconhecida e com uma marca envelhecida”.

“A The Body Shop precisa de um esforço considerável para se tornar rentável, mas o espaço de crescimento parece pequeno”, diz um analista. “A Natura deveria se concentrar em negócios com perspectivas melhores.”

A expectativa do mercado é que o grupo concentre esforços na América Latina, na integração entre Natura e Avon. Na região, a marca Natura é forte e existe espaço para consolidar a presença da Avon e aumentar a rentabilidade dessa operação.

Um cálculo do sell side indica que a margem EBITDA da Avon na América Latina é próxima de zero, enquanto a margem da Natura gira em torno de 20%.

“Se a Avon chegar à metade disso, já é uma evolução relevante”, diz um analista.

A dúvida, agora, é qual será o destino das operações da Avon fora da América Latina, cujas receitas também têm caído.

Segundo o Itaú, a Natura negocia a 5,2x o EBITDA para 2024, abaixo de sua média histórica de 11x e abaixo também de pares internacionais.