José Carlos MagalhãesNuma reunião com investidores ontem, o fundador e CEO da Tarpon esteve longe de fazer um ‘mea culpa’ sobre a famosa concentração de seu portfólio. 

“Podem esperar muito mais profundidade e menos horizontalidade,” disse José Carlos Reis de Magalhães, mais conhecido como Zeca. “É mais importante fazer nossas empresas se tornarem especiais e valiosas no tempo do que olhar novas coisas.”

Mas ao mesmo tempo, Zeca reconheceu que transformações como a que a gestora colocou em curso na BRF seriam mais fáceis de executar se a empresa fosse de capital fechado.

“Sou um grande fã de companhia aberta. Mas o nível de curtoprazismo e escrutínio é muito alto. Se pudesse ter feito os primeiros três ou quatro anos de transformação, que são muito intensos e duros nessas companhias, com o capital fechado, seria muito mais fácil. E depois, quando começa um caminho, um norte mais definido e com pessoas já empossadas e com liderança, aí sim desenvolvê-las pelos próximos 20 ou 30 anos como companhia aberta. Acho que esse modelo e tipo de pegada de gestão faz mais sentido.”

A Tarpon tem 56% de seu portfólio alocado na BRF, e outros 18% na Somos Educação.

Após três anos de retornos magros na gestora, Zeca voltou à presidência executiva em outubro. Seu desafio é explicar aos investidores que sua estratégia de gestão leva tempo e convencê-los de que o desempenho recente é a exceção, não a regra.

Desde sua fundação há 14 anos, a Tarpon construiu uma base de investidores vendendo uma estratégia de influir em empresas e transformá-las – o principal diferencial para levantar recursos que poderiam ser investidos diretamente nas empresas abertas nas quais ela tem participação. 

Mas neste ano, apesar das mudanças implementadas tanto na BRF quanto na Somos, ambas lideradas por sócios da Tarpon, as duas empresas tiveram um desempenho muito abaixo do Ibovespa, com quedas de 12% e 40%, respectivamente.

Com isso, os fundos da Tarpon acumulavam até setembro uma queda de 3,2%, contra uma alta de 34,6% do benchmark. “Obviamente nesse período de vacas magras e performance ruim nos últimos três anos, os investidores ficam menos animados para te dar o benefício da dúvida”, disse Zeca. 

Após um ano especialmente complicado para a BRF, com a disparada no preço do milho e maior concorrência no mercado doméstico, a Tarpon espera um 2017 mais tranquilo, com a normalização do ciclo do frango.  Mas avalia que ainda há muitas mudanças para serem feitas na estratégia da companhia, especialmente na operação brasileira. 

“A operação internacional da BRF está funcionando muito bem e vai ser uma visão de fazer mais do mesmo e melhor, porque o modelo está bom. No Brasil, vamos ter uma abordagem mais de ‘turnaround’,” disse.

Na Somos, a estratégia é transformar a companhia de simples vendedora de livros e sistemas de ensino numa fornecedora mais completa de serviços e conteúdo atrelados a contratos de longo prazo. Uma segunda área é a de escolas próprias, com compra de novas unidades que vão sendo integradas. 

No mercado, circulam informações de que a Somos planeja uma oferta primária de ações de R$ 500 milhões para financiar um plano de expansão. Zeca não quis comentar o assunto.

Segundo ele, no médio prazo, o desafio é entender se esses dois negócios da Somos vão andar sozinhos ou separados. “Mais para frente, quando essas duas áreas ficarem adultas e acertarem o modelo de negócios, vamos ver se elas habitam o mesmo guarda-chuva na Somos. É uma questão para daqui a cinco anos”, ressalta.

Nas empresas investidas há mais tempo – caso da Cremer, de produtos de saúde, e da Omega, de energia renovável, que estão no portfólio desde 2008 — Zeca não descarta um desinvestimento.

“Os negócios estão maduros e precisando de uma nova fase de transformação. Podemos fazer aqui, dentro de casa, mas vamos ver se tem grupos aqui ou fora do Brasil mais capacitados para fazer esse novo ciclo de transformação.”

Para 2017, Zeca espera cortar as despesas administrativas da Tarpon em 10% – o que inclui os bônus dos executivos. Nos nove primeiros meses deste ano, as receitas com taxas de administração caíram 29,4%, para R$ 41,4 milhões. Com o desempenho abaixo da meta, a Tarpon não cobra taxa da performance desde 2014.