No último ano, silenciosamente, o Pátria Investimentos vem construindo um império da oftalmologia.
A gestora já comprou sete clínicas e hospitais especializados e colocou todos sob uma holding, a Hospital de Olhos do Brasil, que já se apresenta como “a maior empresa do setor na América Latina”.
O faturamento combinado das empresas adquiridas já chega a R$ 700 milhões, e a meta é faturar R$ 1 bilhão em 2018.
A estratégia do Pátria é conhecida no mercado financeiro como um ‘roll up‘: o investidor escolhe um setor pulverizado e sai comprando empresas até construir massa crítica, pagando parte em dinheiro e parte em ações da holding.
É um modelo que já foi tentado na Brasil Brokers e na Brasil Insurance, por exemplo, e que sofre – às vezes de forma letal – se os interesses dos novos sócios não forem bem alinhados.
No caso da Olhos do Brasil, os médicos continuam à frente das clínicas e deixam de se preocupar com as áreas-meio. Além disso, passam a contar com a expertise do Pátria para achar um comprador para a holding ou levar o negócio para a Bolsa quando tiver musculatura suficiente.
A mais recente aquisição foi há dez dias, quando a holding fechou a compra do Grupo Inob, que tem dois hospitais em Brasília focados em processos de alta complexidade. Desde abril de 2016, a Olhos do Brasil já comprou o Instituto Olhos de Freitas, a DayHorc e a Clínica Villas, na Bahia; o Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB); e o Hospital de Olhos Santa Luzia, em Alagoas.
Amaury Guerrero, ex-CEO da operação brasileira da Alcon – a divisão oftalmológica da Novartis – foi contratado neste ano para comandar o negócio.
Ao contrário da medicina diagnóstica, que já conta com diversos competidores consolidados e listados na Bolsa, os hospitais oftalmológicos ainda são um ‘oceano azul’ para investidores.
Trata-se de um negócio em que se ganha na consulta, no exame e nas cirurgias, que são normalmente de baixa complexidade.
“O paciente faz tudo em um lugar. Normalmente, são cirurgias rápidas e com certa escala. Não tem as margens dos procedimentos de alta complexidade, mas, por outro lado, corre-se muito menos risco de estouro de custo e é mais fácil de padronizar processos”, diz uma fonte que conhece o setor.
No ano passado, a UnitedHealth, dona da Amil, comprou a rede de 18 clínicas oftalmológicas do então presidente do Einstein, Claudio Lottenberg, por R$ 200 milhões. Meses depois, Lottenberg assumiu a presidência da UnitedHealth no Brasil.
A experiência mais recente do Pátria com um ‘roll up’ não faz brilhar os olhos.
A Alliar, empresa de medicina diagnóstica criada pelo Pátria com o mesmo modelo da Olhos do Brasil, nunca valeu mais que os R$ 20/ação de sua estreia na Bolsa, em outubro do ano passado. O papel chegou a cair para R$ 11,80 em março e hoje negocia na faixa dos R$ 16,50.