Ele substituirá o fundador da Amil, Edson Bueno, que assumirá a liderança da UnitedHealth na América Latina.
A escolha de Lottenberg vem num momento em que a UnitedHealth tenta rentabilizar sua operação no Brasil, depois de bilionários aportes de capital nos últimos anos.
Com problemas na operação da Amil, a controladora americana está ampliando seu foco para além dos planos de saúde e em direção a hospitais e serviços médicos, além de sua divisão de tecnologia, a Optum, que cresce rápido nos EUA mas ainda engatinha por aqui.
“O Lottenberg é um craque, tanto como médico quanto como administrador, mas o Einstein é um relógio e funciona muito em função da unidade da comunidade judaica,” disse uma fonte próxima à empresa de planos de saúde. “A Amil é menos Tel Aviv e mais Faixa de Gaza”.
Assim como Bueno, Lottenberg também virou a cara do negócio que comandava. Foi o mais jovem executivo a sentar na cadeira de presidente do Einstein, em 2001, quando tinha 40 anos. Por estatuto, não poderia ser mais reconduzido ao cargo.
De lá para cá, multiplicou o número de leitos oferecidos por cinco, o faturamento por três (para R$ 2,25 bilhões no ano passado), e consolidou o Einstein como referência de qualidade de atendimento no Brasil e na América Latina, mantendo a rentabilidade e gerando superávits crescentes.
“Ele é extremamente hábil e moderno. Fez uma transformação no Einstein, com estabelecimento de guias e protolocos focados na eficiência e que viraram um modelo para as demais instituições”, o secretário de saúde de São Paulo, David Uip, disse ao Brazil Journal.
Lottenberg é conhecido por sua postura pró-racionalização no uso dos serviços médicos, postura pouco comum entre donos de hospitais e música para os ouvidos das operadoras de plano de saúde, que se vêem às voltas com o uso cada vez mais intensivo de consultas, cirurgias e exames.
Há cerca de quatro anos, em parceria com seguradoras de saúde, Lottenberg implantou no Einstein uma política de segunda opinião em casos de indicação de cirurgias de coluna. Dos cerca de mil pacientes avaliados, menos da metade (41%) tiveram a indicação confirmada e os restantes partiram para tratamentos mais simples. O protocolo é replicado agora em outras áreas.
Além da administração no Einstein, que exercia de forma voluntária — como o hospital é beneficente, não há remuneração — Lottenberg também é empresário.
Ele criou uma rede de clínicas oftalmológicas, a Lotten Eyes, com 18 unidades em São Paulo. A rede foi vendida para a UnitedHealth em outubro por cerca de R$ 200 milhões, eliminando os potenciais conflitos de interesse quando ele assumisse a presidência do grupo. “É um negócio muito interessante, extremamente rentável, com muita tecnologia para integrar protocolos e controlar atendimentos”, diz uma fonte próxima ao médico.
Enquanto tanto o Einstein quanto a Lotten Eyes funcionam de vento em popa, na UnitedHealth Lottenberg terá o desafio de virar o jogo. Até agora, o grupo americano só perdeu dinheiro por aqui. A empresa que a UnitedHealth comprou de Bueno fechava no azul. Mas de 2013 para cá, coleciona prejuízos: só no ano passado, foram R$ 107,5 milhões.
Além de pagar mais de R$ 10 bilhões para levar a Amil – valor que consagrou Bueno como ‘bom vendedor’ — a UnitedHealth teve que injetar pelo menos outros R$ 2,3 bilhões nos últimos três anos para fechar as contas e manter o ritmo de investimentos.
Foram R$ 1,09 bilhão em 2013, R$ 665 milhões em 2014 e R$ 550 milhões em 2015, segundo dados disponíveis nos balanços da Amil.
Parte do problema foi conjuntural. A crise, que não estava nas contas, pegou em cheio as operadoras de planos de saúde. O aumento do desemprego levou a uma debandada de clientes, ao mesmo tempo em que os custos médicos dispararam, corroendo as margens.
Mas a troca de comando também trouxe alguns problemas dentro de casa. A implantação de novos sistemas de controle e compliance demorou a vingar, e executivos com muito tempo de casa se sentiram escanteados.
Com o segmento de planos de saúde em queda livre, a United começou a olhar para outro negócio: o de hospitais. Recentemente, separou seus 22 hospitais que atendem outros convênios numa nova empresa chamada Américas Serviços de Saúde. (A United tem outros 10 hospitais voltados exclusivamente para usuários da Amil). No fim do ano passado, comprou o Samaritano de São Paulo, por R$ 1,3 bilhão, e segue de olho em aquisições.
A nova configuração segrega melhor o risco dos negócios e torna mais fácil atribuir valor aos ativos. Não há nenhum plano oficial, mas no mercado não se descarta a entrada de um investidor mais à frente, ou mesmo um IPO. Para efeito de comparação, a Rede D’Or, com 30 hospitais, é avaliada em cerca de R$ 18 bilhões.
Tanto a Amil quanto a América Serviços de Saúde manterão seus CEOs, Sergio Ricardo dos Santos e Luiz de Luca, respectivamente. Ambos se reportarão a Lottenberg.
Profundamente religioso, o novo presidente da UnitedHealth é um ícone da comunidade judaica no Brasil. Foi presidente da Confederação Israelita Brasileira de 2009 a 2014, quando passou o bastão para seu primo, o advogado Fernando Lottenberg.
É considerado uma autoridade no setor de saúde por políticos de todas as orientações e, em toda transição ministerial, aparece como um dos cotados para a pasta da Saúde.
Sua única passagem pela vida pública, no entanto, foi frustrante. Em 2005, ficou apenas seis meses à frente da secretaria de saúde da cidade de São Paulo, sob o então prefeito José Serra. Pediu demissão ao notar que seus planos de eficiência esbarraram na estrutura enferrujada da máquina estatal. Lottenberg é muito bom, mas não faz milagre.