Em seus quase 50 anos como desenvolvedor de shoppings, José Isaac Peres não se lembra de nenhuma inauguração em que não tenha começado seu discurso dizendo, “apesar dessa crise…”

Hoje, aos 81 anos — e no dia em que abre seu 20° shopping — o controlador da Multiplan já está resignado:

10177 0cdb2a79 9d55 0b2a 0000 0118f1284d7d“O Brasil é assim mesmo…” Peres disse ao Brazil Journal.

O ParkJacarepaguá, que começa a receber o público amanhã, é o quinto shopping da Multiplan na Zona Oeste do Rio, a região que mais cresce na cidade, e fica relativamente perto do Barra Shopping. (A inauguração de hoje contará com o prefeito do Rio, o governador do Estado — e, claro, o rabino Nilton Bonder, que ontem já fez uma reza no local.)

“Mas será que a classe média de Jacarepaguá não vai trocar o Barra pelo novo shopping, canibalizando o maior ativo da empresa?” É uma pergunta que Peres já ouviu outras vezes, sempre que faz um segundo shopping numa mesma cidade.

“Jacarepaguá é muito perto, mas o trânsito é muito ruim. Muita gente não quer ter o desconforto de entrar no carro e ficar 20-30 minutos no trânsito até o Barra Shopping, então acabavam nem indo,” disse Peres. “Ou seja, toda vez que você faz um shopping novo na mesma área geográfica você cria uma demanda nova.”

A microrregião de Jacarepaguá reúne mais de 800 mil habitantes.

O novo brinquedo de Peres tem 39 mil m² de ABL, 235 lojas, um supermercado, um centro de eventos, a maior arena permanente de patinação no gelo do Rio, salas de cinema stadium, um parque com 100 brinquedos da Hot Zone (a empresa de jogos que pertence à Multiplan), além de dois parques externos: o Parque da Magia (com brinquedos que vieram da Europa e oferecem experiências sensoriais) e o Parcão, uma área gramada com brinquedos para pets.

Peres diz que o novo shopping é “um produto diferente” de tudo que a Multiplan já fez, e uma “evolução” da companhia, já que o novo mall tem um perfil mais lúdico, ligado ao entretenimento. “Estamos nos adaptando às demandas da população,” diz o empresário.

O lançamento vem num momento em que vários shoppings já estão faturando acima dos níveis pré-pandemia — mas as ações do setor continuam perto das mínimas da covid.  Peres diz que o mercado está “errado” na precificação, cita as vendas de outubro (“melhores que outubro de 19”) e sugere que os investidores olhem o valor de reposição dos ativos. A receita de locação da Multiplan no terceiro tri ficou 13% acima do mesmo tri de 2019.

Mais: sentindo uma oportunidade, Peres disse que esteve prestes a fechar uma aquisição este ano.

“Chegamos a preço, condições, tudo — mas por questões gerenciais desistimos,” disse ele. “Era uma rede fora da nossa área de atuação, que não teria nenhuma sobreposição geográfica com nossos shoppings. Não seria mais do mesmo.”

[Nosso palpite: o alvo pode ter sido o Grupo Almeida Júnior, que domina o setor em Santa Catarina, onde a Multiplan tem zero propriedades.]

Quando Peres lançou o ParkJacarepaguá, em abril de 2019, o Brazil Journal estampou a headline: “Multiplan lança ParkJacarepaguá com fé em Brasília”

Hoje, essa fé parece um pouco abalada.

O empresário diz que os últimos três anos foram marcados por “erros e acertos”, e que o importante agora é o País ter segurança e harmonia entre as instituições.

“Sabemos que precisamos de segurança, que a Justiça tem que funcionar para todos, que o Congresso é a base de sustentação do País e que os presidentes têm uma responsabilidade enorme. Mas hoje vejo um conflito institucional que deixa a gente confuso,” disse o empresário que sobreviveu à hiperinflação, incontáveis planos econômicos e dois impeachments.

“Mas se você ficar olhando a crise,  você não faz nada,”  ensina o papa dos malls. “O Austregésilo de Athayde sempre dizia que o brasileiro tem uma virtude: ele chega a um acordo e entendimento depois da exaustão de tanto discutir a mesma coisa. Aqui é assim: uma bagunça geral, mas depois o cara fica exaurido e faz um acordo porque ninguém aguenta mais.”