Como parte de seus preparativos para migrar para o Novo Mercado, a Eletrobras propôs na sexta-feira a troca de cada ação preferencial ‘B’ por 1,1 ação ordinária.
O prêmio para a preferencial nessa conversão foi justificado pelo fato de as PNs terem direito a dividendos pelo menos 10% maiores do que os pagos às ONs.
Para um gestor que tem PNs da empresa, a relação, seguindo o diferencial de dividendos, é justa. “A PN tem que valer mais para o acionista topar. Se não, será mais vantagem para ele ficar no papel recebendo 10% mais dividendos”, disse.
Para os analistas do Itaú BBA, no entanto, os acionistas de ONs podem contestar a proposta argumentando que suas ações são mais líquidas que as PNs, e que por isso o prêmio deveria ser inferior aos 10%.
A Eletrobras ON (ELET3) negocia em média R$ 517 milhões por dia, ou 3,5x mais que as PNBs, que giram R$ 149 milhões. Atualmente, a PNB é negociada com um prêmio de 5,6% em relação à ON – inferior à proposta de conversão.
Para um outro gestor que tem posição em ONs, o pagamento de prêmio não se justifica: “O justo é 1 para 1. Pelo fato de a maior liquidez estar nas ONs, quem tem mais interesse nessa migração é o preferencialista. E ainda assim ele vai ter um prêmio no ratio? …. Eu não vejo problema nenhum se os donos de PNs não aceitarem uma relação 1:1 e a migração não for adiante. Eles ficam com menos liquidez e mais dividendos.”
Para esse gestor, quem se posicionou nas PNBs contava com um turnaround depois que, quando entrou em dificuldades, a Eletrobras suspendeu os dividendos obrigatórios. “Eles não fizeram a posição esperando uma migração para o Novo Mercado e ficaram na PNB por inércia. Só agora acharam essa tese da troca com prêmio.”
Para outro acionista que também tem ONs, apesar de o direito a dividendos indicar esse fator de conversão, existem os benefícios de liquidez e de direito de voto — dois fatores que, segundo ele, deveriam jogar para baixo o fator de conversão.
“Foi assim que o mercado sempre precificou, tanto que as ações não têm negociado a 1 para 1,1. O preferencialista vai deixar de ter mais dividendos, mas passará a ter mais governança e liquidez, por isso acredito que 1 para 1 seja justo,” disse.
Um acionista que tem a PNB pondera que a liquidez desses papéis já é bastante relevante; e que, na privatização, a Eletrobras limitou o poder de voto de qualquer acionista ou grupo organizado a 10% do capital.
Segundo este analista, a conversão de ações e a migração ao Novo Mercado são um desejo da atual gestão; que deve trabalhar para que os donos das duas classes cheguem a um acordo.
As ações ordinárias respondem por 87,8% do capital da Eletrobras, e as PNBs por 12,1% – a diluição para os ordinaristas seria pequena, e de certa forma compensada pelo fim dos dividendos maiores para os preferencialistas.
As bases de acionistas nas duas classes de ações são bastante distintas – apenas o BNDES é relevante nos dois papéis.
Ao divulgar a proposta, a Eletrobras disse que tanto a migração para o Novo Mercado quanto a razão de conversão ainda estão sendo analisadas pelo conselho.
O CEO Wilson Ferreira pretende lançar amanhã seu primeiro PDV pós-privatização, que terá um custo de cerca de R$ 1 bilhão e payback estimado de 11,2 meses.
A Eletrobras ON fechou em alta de 2,89%; a PN avançou 4,30%.