A Unimed-Rio vai tentar hoje, pela terceira vez, aprovar suas contas relativas a 2014.
Um número recorde de cooperados é esperado na assembléia ordinária que acontecerá às 17:30 hs (em primeira convocação) e 19:30 hs (em segunda), na Barra da Tijuca.
Um grupo de médicos chamado ‘Segunda Opinião’, que existe há quatro anos, tentou recentemente destituir a diretoria da Unimed-Rio, que está no poder há duas décadas.
Em agosto, o grupo reuniu cerca de 1.300 assinaturas — ou 20% da base de cooperados, o número exigido pelo estatuto para se convocar uma assembeia extraordinária. Pretendiam destituir a diretoria, mas a assembleia não foi convocada.
Durante a atual gestão, a Unimed-Rio tradicionalmente apresentou bons resultados e crescimento robusto, mas nos últimos cinco anos os cooperados começaram a notar que o balanço da empresa estava cada vez mais endividado e que o crescimento não era sustentável.
Começaram queixas, também, sobre a falta de transparência na gestão.
Em setembro de 2013, a Unimed-Rio comprou uma carteira de 160 mil vidas da Golden Cross, para a qual não havia comprador no mercado. A transação — cujo valor nunca foi divulgado — transformou a Unimed-Rio na recordista de queixas no Estado e fez seu índice de sinistralidade explodir — o índice foi de 75 para 82. Das 160 mil vidas, apenas 45 mil estavam no Estado do Rio, área de cobertura da Unimed-Rio. As outras estavam em outros estados, o que tornou os custos de cobertura inviáveis para a Unimed-Rio.
A transação, no entanto, permitiu que a empresa reportasse um lucro em 2013, em vez de um prejuizo. Meses depois, em fevereiro de 2014, a diretoria enfrentaria uma nova eleição.
Ao longo de 16 anos, até dezembro do ano passado, a Unimed foi uma patrocinadora generosa do Fluminense. Nos últimos anos, era comum a cooperativa gastar 70 milhões de reais por ano no contrato com o time tricolor — um dos maiores contratos de patrocínio de futebol no mundo. A Unimed-Rio diz que o patrocínio valeu a pena porque aumentou seu número de vidas de 200 mil para 1,1 milhão, mas o argumento desconsidera que o mercado de saúde complementar bombou no Brasil na última década.
Em seu site, a Unimed acusa a oposição de ‘tumultuar o ambiente político’ e tentar prejudicar os diretores atuais.
“Não queremos prejudicar ninguém, só queremos recuperar a empresa e não achamos justo isentar ninguém de suas responsabilidades,” diz Claudio Salles, o organizador da Segunda Opinião. “As decisões estratégicas não foram tomadas pelo colegiado, e sim por um grupo pequeno que deve ser responsabilizado.”
Se votarem com o bolso, é muito provável que os cooperados da Unimed rejeitem as contas. De acordo com a empresa, “a proposta de rateio de perdas será de forma proporcional à produção de cada cooperado no ano de 2014, limitada a 18% da produção atual. O tempo para pagamento do rateio varia, em média, de 6 a 9 meses.”
Dirigindo-se aos cooperados, a Unimed-Rio completa: “Não se preocupe, pois você não ficará pagando indefinidamente o rateio. Caso as contas sejam aprovadas, o Conselho de Administração deliberou pela recomposição do valor da consulta a R$ 80,00 e da tabela de honorários médicos nos valores praticados no primeiro trimestre de 2015.”
A maior das cooperativas que formam o sistema Unimed, a Unimed-Rio teve 4,6 bilhões de reais de faturamento e prejuízo de 190 milhões de reais em 2014. De acordo com o site da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o prejuízo este ano já era de 226 milhões de reais até 31 de agosto.
Desde abril, a Unimed-Rio está sob ‘intervenção fiscal’ da ANS. As dívidas chegam a 1 bilhão de reais e os fornecedores tiveram pagamentos atrasados no ano passado.
A Unimed Paulistana quebrou no fim de agosto, depois de quatro intervenções da ANS.
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UPDATE: Na noite de 26 de outubro, os cooperados rejeitaram as contas da Unimed-Rio relativas ao ano de 2014 por imensa maioria de votos. A foto abaixo foi enviada por um cooperado.