Um ditado chinês diz: “Espere o melhor, prepare-se para o pior… e aceite o que vier.” 
 
Desde ontem, alguns gestores no Itaim e no Leblon estão vivendo esse conselho na carne.
 
Em novembro de 2017, dez meses depois de comprar o controle da CPFL, a estatal chinesa State Grid anunciou uma oferta para comprar todas as ações que ainda não detinha na companhia a R$ 27,69.
 
A oferta foi relativamente bem sucedida e ajudou a enxugar a liquidez, mas alguns investidores aparentemente esqueceram de aderir, deixando cerca de 5% dos papéis ainda em circulação.
 
Quando a ação caiu para R$ 20, vários gestores viram aí uma oportunidade: comprar o papel e esperar uma nova oferta.
 
Pelas regras do Novo Mercado, a State Grid fatalmente voltaria aos investidores (18 meses depois da primeira oferta) para comprar o que resta do ‘float’ a um valor não inferior à oferta anterior corrigida pelo CDI do período (o que daria cerca de R$ 30).
 
Gestoras como RPS Capital, Solana, Claritas e Núcleo enxergaram a arbitragem e compraram o papel.
 
Mas ontem à noite, a State Grid surpreendeu: em vez de fazer uma oferta pelas ações que faltam, a gigante chinesa anunciou que vai vender cerca de 10% do capital da CPFL para re-enquadrar a empresa nas regras de liquidez do Novo Mercado.
 
Dos chineses, a Faria Lima sempre esperou o ‘venha a nós’.  Agora, está tendo que se contentar com o ‘vosso reino.’
 
Não se trata exatamente de uma tragédia. Os comprados ainda tem um bom argumento: os chineses não devem vender a um preço menor do que pagaram há menos de dois anos.
 
“Se eles forem a mercado e o preço for abaixo do que pagaram, eles voltam atrás e fazem a OPA”, diz o analista de um fundo que montou posição apostando no fechamento de capital.
 
Quando a companhia foi vendida, o lucro era de R$ 1 bi, mas subiu para R$ 2,1 bilhões no ano passado. Em 2016, os chineses pagaram 24 vezes o lucro; o múltiplo agora está em 12.
 
“Os bancos vão ter que convencer o mercado de que vale a pena ser sócio dos chineses”, diz o analista. “Mas eles vem se mostrando bons operadoras, dando autonomia para a operação brasileira.”