Para manter executivos alinhados, basta um bom programa de opções de ações, certo?

A Amazon está descobrindo que nem sempre.

A companhia está sofrendo um êxodo inédito em sua história, que já atingiu mais de 10% dos cargos de liderança da empresa.

Nos últimos 15 meses, 45 vice-presidentes e executivos sêniores (de um total de 350) deixaram a companhia — um turnover raro para uma empresa que sempre se gabou de valorizar as pessoas, e consideravelmente alto mesmo para os padrões da indústria de tech. 

A conta foi feita pelo Business Insider com base em comunicados ao mercado, atualizações no LinkedIn e conversas com ex-funcionários da empresa.

Segundo o Business Insider, 9 dos 45 executivos estavam na Amazon há mais de 20 anos, enquanto outros 11 tinham pelo menos 10 anos de casa. No total, os executivos que deixaram a companhia somavam mais de 450 anos de Amazon. 

“O risco-retorno para as lideranças continuarem na Amazon não existia mais neste momento,” um dos executivos disse ao Insider sob condição de anonimato. “Não me surpreenderia se em 2021 houvesse mais atritos entre os vps do que em 2020.”

Outros executivos disseram ao site que não deixaram a Amazon por estar infelizes, e sim porque tiveram oportunidade de ganhar mais em cargos mais altos. Um fator que também pesou na decisão: uma cultura supostamente lenta, com poucas oportunidades de crescimento.

Sobre a remuneração, boa parte dos executivos ouvidos pelo site disse que a Amazon não se esforça para reter as lideranças quando elas recebem propostas melhores.

Dois casos emblemáticos foram o do vice-presidente de robótica, Brad Porter, que deixou a Amazon ano passado depois que sua tentativa de aumentar a remuneração-base dos vps não foi adiante, e do vp de logística Tim Collins, que pediu demissão em fevereiro para se juntar à startup de delivery GoPuff. Jeff Wilke, o ex-CEO de varejo que era considerado o braço-direito de Bezos, também deixou a companhia recentemente.

Segundo as fontes do Business Insider, para a maioria dos funcionários o teto da remuneração-base da Amazon é de US$ 160 mil/ano, com boa parte do salário vindo em ações. Quando o preço da ação sobe muito, jogando a remuneração total para cima, a Amazon para de aumentar a compensação por ações mesmo para funcionários que mereceriam um aumento.

Ex-executivos também citaram problemas envolvendo a cultura da empresa, que tem um histórico de priorizar candidatos novos para promoções em detrimento de executivos com mais experiência e tempo de casa.

Ao mesmo tempo, os executivos trazidos de fora muitas vezes não duram muito na companhia. Eles são contratados pela sua expertise mas tem pouco espaço para sugerir mudanças. “A cultura é: Nós sabemos como fazer isso. Deixe-nos te ensinar,” disse um ex-executivo.