Na semana em que o Facebook está mudando seu algoritmo para tentar conter as fake news, Rupert Murdoch mandou um recado direto a Mark Zuckerberg: se a plataforma quer reconhecer o bom jornalismo, por que não paga por ele?
Em uma nota dura, de apenas três parágrafos, o chairman da News Corp. defendeu um novo modelo de negócios que tornaria mais equânime a relação entre redes sociais e empresas de mídia – e a tornaria mais próxima dos modelos de monetização tradicionais.
“Se o Facebook quer reconhecer os veículos mais confiáveis, deveria pagar a esses veículos uma taxa semelhante à que as companhias da TV a cabo pagam para ter os canais na sua grade”, disse Murdoch, cujas empresas controlam o The Wall Street Journal e a Fox News.
“Os publishers estão claramente melhorando o valor e a integridade do Facebook por meio de suas notícias e seu conteúdo, mas não estão sendo recompensados de forma adequada por esses serviços.”
O comunicado de Murdoch vem em resposta à nova estratégia do Facebook, que planeja ranquear as fontes de notícias com base na credibilidade para conter o avanço do fake news. As matérias que os usuários classificarem como confiáveis nas pesquisas serão privilegiadas no feed.
Uma outra iniciativa, que vem sendo adotada nas últimas semanas, dá prioridade ao conteúdo criado ou compartilhado pela rede de amigos e coloca em segundo plano as publicações feitas por empresas, marcas e veículos jornalísticos.
Há anos, Murdoch vem liderando as discussões sobre como as redes sociais influenciam o modo como as pessoas consomem notícias: ao mesmo tempo em que aumentam seu alcance, os algoritmos viciaram as discussões e acabaram dando espaço para uma epidemia de notícias falsas e veículos fakes travestidos de jornalismo sério.
No comunicado de hoje, ele diz que o reconhecimento dessa realidade por parte do Google e do Facebook é um avanço, mas que as medidas corretivas adotadas até agora são “inadequadas comercialmente, socialmente e jornalisticamente”.
Além da NewsCorp, Murdoch é chairman da 21st Century Fox (comprada recentemente pela Disney), que tem nas TVs a cabo que carregam seus canais uma fonte importante de receita.
Num esforço para se aproximar do mercado editorial, o Facebook permitiu que os principais veículos jornalísticos vendessem assinaturas por meio das páginas que eles mantêm nas redes sociais – um botão de ‘comprar agora’ leva para a página de assinaturas.
Mas Murdoch diz que a iniciativa está longe de ser suficiente.
“Há muita discussão sobre os modelos de assinatura, mas eu ainda não vi uma proposta que reconheça verdadeiramente o investimento e o valor social do jornalismo profissional”.
Para ele, o pagamento pelo conteúdo jornalístico “teria um impacto mínimo nos lucros do Facebook, mas um grande impacto nas perspectivas para o mercado editorial e jornalistas”.
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Enquanto isso, o Facebook reflete publicamente sobre seus próprios dilemas. Num post no blog da empresa, “Perguntas Difíceis: Qual o efeito das redes sociais sobre a democracia?”, o gerente de ‘engajamento cívico’ foi de uma honestidade brutal:
“Eu gostaria de poder garantir que os efeitos positivos [das redes sociais] mais que compensam os negativos, mas não posso. É por isso que temos a obrigação moral de entender como estas tecnologias estão sendo usadas e o que podemos fazer para tornar comunidades como o Facebook tão representativas, civilizadas e confiáveis quanto possível.”