“Os fatos mudaram, então eu mudei de ideia.”

Bill Dudley, o ex-presidente do Federal Reserve de Nova York e um dos economistas mais respeitados de Wall Street, sacou a velha frase de John Maynard Keynes para justificar por que passou a defender a redução dos juros – já na reunião da próxima semana.

Em um artigo publicado na Bloomberg, Dudley afirmou que vinha sendo um defensor da estratégia “higher for longer” para consolidar a queda na inflação. Agora, mudou de lado, passando para o time do “Corte já!”

“O Fed deveria cortar, preferencialmente em sua próxima reunião,” escreveu Dudley, que comandou o Fed regional de NYC de 2009 a 2018 e antes trabalhou quase 20 anos na Goldman Sachs, onde foi economista-chefe.

Para Dudley, o pivô se justifica pela desaceleração da economia americana.

“Embora já possa ser demasiado tarde para evitar uma recessão cortando as taxas, o atraso agora aumenta desnecessariamente o risco,” disse ele.

Em sua argumentação, Dudley disse que a economia criou apenas 195 mil empregos nos últimos 12 meses. Além disso, a razão entre vagas em aberto e o total de empregados caiu para 1,2 – número em linha com o que era visto antes da pandemia.

“Mais preocupante, a média móvel de três meses da taxa de desemprego está 0,43 ponto percentual acima de onde estava em seu ponto mais baixo dos 12 meses antecedentes – muito próxima do patamar de 0,5 que, como identificado pela Sahm Rule, invariavelmente sinaliza uma recessão nos EUA,” comentou Dudley.

A ‘Regra de Sahm’ é uma relação identificada pela ex-economista do Fed Claudia Sahm. O indicador tem sido bastante preciso em antecipar períodos de contração da economia ocorridos desde os anos 70.

Ao mesmo tempo, disse Dudley, a inflação tem surpreendido positivamente, e os ganhos salariais perderam força.

Ainda assim, as autoridades do Fed têm indicado que não vão mexer na taxa semana que vem.

Dudley vê três possíveis razões para o Fed postergar a decisão para a reunião seguinte, a de setembro.

Em primeiro lugar, o Fed “não quer ser enganado novamente” pela trajetória da inflação, como ocorreu no final do ano passado.

Segundo, o chairman Jerome Powell poderá optar por aguardar para ter o consenso mais amplo possível.

Terceiro, os diretores do Fed “não parecem particularmente preocupados com o risco de a taxa de desemprego superar o limite da Regra de Sahm”.

O mercado de Treasuries parece concordar com Dudley. O yield da Treasuries de 2 anos caiu ao menor nível desde fevereiro. A curva continua invertida, mas o diferencial de yield entre o título de 2 e o de 10 anos agora é o menor em dois anos.

Apesar do movimento na curva, a Bolsa americana teve um dia brutal, com o S&P caindo 2,1% e o Nasdaq, 3,4% – as piores quedas desde 2022.