A Motiva atualizou suas metas de eficiência para 2035 e prometeu um ‘back to basics’ — com uma expansão mais “focada e sinérgica” e um portfólio simplificado, o que vai se refletir num mercado endereçável menor nos leilões.
Essas são as principais mensagens do Investor Day da companhia, que está acontecendo agora de manhã em São Paulo.
No evento, a Motiva (ex-CCR) reiterou sua meta de crescimento de EBITDA de ‘high single digits’ até 2035 que já havia passado no Investor Day do ano passado, mas atualizou sua meta de eficiência, com projeções bem mais ambiciosas.
Antes, a companhia havia prometido atingir um ratio de opex caixa/receita líquida de 38% em 2026 e de 35% em 2035. Agora, a Motiva disse que vai entregar os 38% já este ano e chegar a 30% em 2030. Em 2035, a expectativa é que esse indicador esteja abaixo de 28%.
Parte dessa melhora virá das iniciativas de tecnologia da Motiva, o CEO Miguel Setas disse ao Brazil Journal.
“Temos um plano diretor com seis tecnologias prioritárias da indústria 5.0 que vamos investir nos próximos anos: AI generativa; big data e analytics; IOT e sensorização; robotização e automação; novos materiais; e transição energética,” disse o CEO. “Dos 7 pontos percentuais que melhoramos na meta de eficiência, 2 a 3 pontos vão vir dessas tecnologias.”
O restante vai vir das iniciativas tradicionais de eficiência, como otimização de contratos, negociações com fornecedores e redução do headcount. Nos últimos dois anos, a Motiva já cortou em 10% o número de funcionários, de 17,7 mil para 16 mil.
Setas disse que a Motiva analisou 300 projetos dentro dessas seis tecnologias e escolheu 30 para tocar nos próximos dez anos. “São projetos que têm um TIR superior a 30%. É melhor do que qualquer leilão de rodovias. Nossa ideia é ir implementando eles ao longo dos anos,” disse o CEO.
Sobre a meta de crescimento de EBITDA, Setas disse que a companhia entregou um CAGR acima de 10% nos últimos dois anos, mas optou por manter a meta em ‘high single digits’ para ser conservadora.
“Achamos mais prudente fazer uma promessa que temos certeza que vamos entregar mesmo em cenários mais conservadores, do que colocar uma meta mais alta e por alguma razão fora do nosso controle, como uma recessão, não entregarmos,” disse ele.
Para atingir esse crescimento, a Motiva vai apostar num portfólio mais simplificado e numa expansão “focada e sinérgica,” um movimento que o CEO chamou de um “back to basics.”
Desde o início do ano, a companhia está vendendo suas operações de aeroportos, num processo assessorado pelo Itaú BBA e pelo Lazard e que está agora na fase das propostas não-vinculantes; e, depois que terminar esse processo, vai começar a buscar um sócio minoritário para sua vertical de mobilidade urbana.
Em rodovias, o plano agora é focar o crescimento apenas em ativos premium e em geografias estratégicas, o que reduz o mercado potencial da companhia, que antes era de R$ 120 bilhões de capex, para cerca de R$ 100 bi.
“Vamos focar em regiões que têm demanda construtiva, bom ambiente de negócios e onde a Motiva já tem alguma presença, para extrair mais sinergias para o negócio, com economias de escala,” disse o CEO. “Temos interesse em grandes centros urbanos e em grandes eixos logísticos da indústria e em particular do agronegócio.”
Em mobilidade urbana, a lógica será a mesma: a companhia vai buscar aumentar sua presença nos mercados onde ela já tem operações: São Paulo, Rio e Salvador. Com isso, ela também reduziu seu mercado potencial de R$ 70 bi para R$ 60 bi em capex.
A Motiva também está anunciando algumas mudanças na sua estrutura organizacional. A empresa criou uma vice-presidência dedicada à inovação, que será comandada por Pedro Sutter; e uma incubadora de novos negócios, para investir em oportunidades adjacentes ao negócio core da companhia.
Outra mudança é o reforço do núcleo de excelência em capex, que a companhia já havia criado. Setas disse que Motiva vai ampliar essa estrutura e torná-la transversal em toda a companhia.
A Motiva tem R$ 55 bilhões em capex para executar até o final de suas concessões, a maior parte nos próximos 10 anos.
A ação da Motiva sobe 22% nos últimos 12 meses e 48% desde o início do ano. A companhia vale R$ 30 bilhões na B3.