Há duas semanas, como eu tinha uma dúvida específica sobre o funcionamento de bancos, liguei para Edson Macedo, o sócio da SolFin. Quando o assunto é crédito, bancos ou contratos, há quase 20 anos eu sempre ligo para o Edson. 

Mas dessa vez, ele não me atendeu. Nem me retornou.

Dias depois, recebi pelo Whatsapp de Edson uma mensagem de sua irmã Odília:  “Geraldo, tenho notícias muito tristes.”

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O mercado financeiro produz uma dose desmesurada de alguns poucos arquétipos: gente obcecada com dinheiro, gente muito preocupada com status, e gente que se leva mais a sério do que deveria. 

Edson fugia de todos esses lugares-comuns.  

Se você fosse um cliente dele, você saía impressionado tanto com seu conhecimento do assunto quanto com a ética com que ele conduzia qualquer situação.  Mas se ele era seu amigo, aí você tirou a sorte grande.  

11444 98757905 da37 9b2c 80c4 873d96b53b39Era impossível sair de uma conversa com ele com menos energia do que você entrou.  Sem rir de uma piada. Sem ouvir um bastidor ou uma história de mercado que você não conhecia. Era um modelo de tudo que pode dar certo num ser humano: empático, carinhoso, leal.  

Edson Macedo Neto nasceu em 4 de julho de 1958 no Rio de Janeiro. Fez Direito na PUC, trabalhou naquela grande escola que foi o Chase Manhattan e, aos 34 anos, tornou-se sócio do Banco Pactual.  

No final dos anos 90, quando Luiz Cézar Fernandes se enrolou em dívidas e seus sócios mais jovens exigiram sua saída do comando, foi Edson quem intermediou as conversas entre os dois lados. Tinha a confiança de ambos os lados.

Há mais de 20 anos, Edson montou a SolFin, uma boutique especializada em reestruturar empresas. Sua capacidade de ler pessoas e de avaliar seu caráter eram um diferencial na sua linha de trabalho. Seu trânsito na Faria Lima e nas empresas era amplo.

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Ano passado, quando a pandemia eclodiu, Edson se refugiou em sua casa de campo perto de Atibaia.  Sofria de inúmeras comorbidades. “Você sabe que se eu pegar isso aí, eu tou morto,” me dizia, e mesmo assim ria. 

Esta saúde frágil — diabetes, doença renal crônica e pressão alta — lhe obrigava a ir duas vezes por semana a São Paulo: tinha que fazer diálise.  Numa dessas viagens, Edson contraiu o vírus. Passou 44 dias internado, foi intubado, curou-se da doença, mas não resistiu às sequelas.

Em seu velório, tocaram o clássico “My Way,” um pedido de Edson.

Perdi um amigo insubstituível, e meu luto é maior do que consigo expressar. Esse texto é uma tentativa de dividir essa perda com todas as pessoas que, como eu, o Edson tornou melhores, e que agora sentem esse imenso vazio.

Se o Edson estivesse aqui, acho que ele concordaria comigo sobre o que nos resta fazer: ligar para os amigos que amamos e declarar esse amor. Sem perder sequer um segundo.