A maior produtora de fertilizantes do mundo disse que a invasão da Ucrânia pela Rússia pode levar a “interrupções prolongadas” no fornecimento global de potássio e nitrogênio — dois macronutrientes presentes na maioria dos fertilizantes e essenciais para as lavouras.

A interrupção dessa cadeia deve ocorrer porque a Rússia e a Bielorrúsia são os maiores produtores de potássio do mundo, atrás apenas do Canadá.

Com as sanções da Europa e dos Estados Unidos aos dois países, as exportações desses nutrientes devem ser afetadas, gerando um efeito em cascata com repercussões significativas para vários mercados, incluindo a agricultura brasileira, que importa 80% de seus fertilizantes.

A declaração foi dada ontem pela canadense Nutrien durante uma conferência com investidores organizada pela BMO Capital Markets, segundo a Reuters.

“Podemos ver interrupções nas exportações da Rússia? Sim. Podemos ver o fechamento de fábricas? Podemos,” disse Ken Seitz, o CEO interino da Nutrien. “Provavelmente vamos ver uma interrupção prolongada no fornecimento de potássio dessa parte do mundo.”

Se a interrupção de fato ocorrer, a Nutrien disse que poderá aumentar ainda mais sua produção de potássio.

A companhia já espera vender um volume recorde de 14,3 milhões de toneladas de potássio este ano, e disse que pode expandir ainda mais a produção dependendo das circunstâncias.

Em Nova York, a ação da Nutrien fechou no all time high, em alta de 3,6%, com a empresa valendo US$ 48 bilhões.

A preocupação da Nutrien não vem de hoje. Há um mês, a empresa já havia dito que pode aumentar sua produção de potássio em 29% nos próximos anos se evantuais sanções impostas à Bielorússia afetassem a oferta no mercado.

Segundo a Nutrien, as exportações russas de fertilizantes nitrogenados também devem ser afetadas porque o preço do gás natural europeu — um insumo fundamental para a produção de nitrogênio — disparou na semana passada.

A crise deve respingar no Brasil. Como a Rússia fornece 20% dos fertilizantes usados na lavoura brasileira (e a Bielorússia, outros 6%), a interrupção do fornecimento pode ter um impacto relevante no agronegócio.

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E o cenário ruim ainda pode piorar.

Hoje à tarde, um sindicato de trabalhadores da maior ferrovia do Canadá — a Canadian Pacific Railway — disse que pode entrar em greve em 16 de março.

O sindicato reúne mais de 3.000 trabalhadores da ferrovia e, segundo a empresa, tem feito “demandas irracionais”.

Segundo a Bloomberg, a greve poderia prejudicar ainda mais a cadeia de suprimentos de fertilizantes num momento em que as fazendas dos Estados Unidos precisam de nutrientes chave para suas plantações de primavera.

“A disrupção da Canadian Pacific no meio da primavera tem um impacto potencial devastador na capacidade de suprir a demanda das fazendas americanas,” o CEO da GreenPoint, uma empresa de suprimentos agrícolas do sul dos EUA, disse à Bloomberg.

O cenário tem levado os preços dos fertilizantes para a lua.

Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, três tipos de fertilizantes dispararam de preço desde o início do ano passado: a ureia subiu 149%; o nitrogênio líquido, 192%; e a amônia anidra, 235%.

O CEO da Yara, a gigante norueguesa de fertilizantes, também demonstrou preocupação com a situação do mercado.

Num artigo publicado no site da empresa, Svein Tore Holsether disse que “os agricultores estão agora entrando em um estágio crucial na temporada agrícola em que insumos como fertilizantes, sementes e água determinarão o rendimento da próxima colheita.”

“Os cálculos mais extremos indicam que se não for adicionado fertilizante ao solo, as colheitas podem ser reduzidas em 50% até a próxima safra,” disse ele.