Gilberto Dimenstein, cuja empatia pelo outro começou no jornalismo investigativo e transbordou em décadas de trabalho a favor da educação no terceiro setor, morreu na manhã desta sexta-feira em sua casa na Vila Madalena, em São Paulo.
Dimenstein lutava contra um câncer pancreático há quase um ano, segundo os amigos com elegância e serenidade. Ele tinha 63 anos.
O jornalista fez seu nome na Folha de S.Paulo, onde começou como repórter em 1985 e trabalhou por 28 anos.
No Governo Sarney (1985-1990), o repórter descobriu um esquema de superfaturamento do leite escolar. As reportagens renderam o livro “A República dos Padrinhos”, publicado em 1988.
Aquele trabalho de fiscalização do Poder — num momento em que o Brasil retornava ao regime democrático — inspirou uma geração de jovens jornalistas a seguir na carreira.
Dimenstein também deixa um legado nacional e internacional nas áreas de Educação, Direitos Humanos, Empreendedorismo e Cidadania.
Em 2008, fundou o Catraca Livre, um site que que lista eventos culturais gratuitos no Rio de Janeiro e São Paulo, além de reportagens.
Sua preocupação com a adolescência gerou dois livros. “Meninas da Noite”, publicado em 1992, retrata a prostituição infantil na região da Amazônia. “O Cidadão de Papel”, ganhou um Jabuti em 1994, aborda os direitos da criança e adolescentes no Brasil.
Gilberto Dimenstein nasceu em São Paulo em 28 de agosto de 1956 numa família judaica. Seu pai tinha origem polonesa, sua mãe, paraense.
Dimenstein formou-se em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em 1977 ingressou na Revista Shalom, cobrindo assuntos judaicos.
Em 1995, Dimenstein mudou-se para Nova York, trabalhando como colunista da Folha enquanto fazia um programa de visiting scholar na Universidade Columbia. Em 1998, ao retornar a São Paulo, entrou para o conselho editorial do jornal.
Nos três anos que viveu em Nova York, Dimenstein testemunhou a revitalização da Times Square e concluiu que a mudança de uma cidade acontece do centro para fora. O urbanismo das metrópoles tornou-se uma obsessão, e ele passou a buscar ideias que pudessem ser replicadas em São Paulo.
Em Columbia, o jornalista criou o piloto do que se tornaria um dos seus maiores empreendimentos: o Cidade Escola Aprendiz, um projeto de educação comunitária e inovação em educação.
Em outra passagem fora do País, desta vez em Harvard, Dimenstein teve a ideia projeto do Catraca Livre, em parceria com estudantes universitários de São Paulo.
Ao tornar pública sua doença em dezembro, Dimenstein relatou como o câncer mudou sua percepção sobre a vida e sobre o amor. Disse que passou a “viver num mundo das gentilezas” ao desacelerar a vida.
Um ritmo quase impossível para um criador insaciável, que escrevia ideias em guardanapos, odiava gravatas e amava jazz. Sua experiência com o fim da vida tornou-se livro, a ser publicado nos próximos meses.
Um amigo próximo disse que ele “soube viver, e souber morrer”.
Gilberto deixa sua mãe, Esther; a esposa, Anna; os filhos, Marcos e Gabriel; e um neto, Zeca.