Quem poderia acreditar que cortinas roxas de veludo, sofá cor laranja também em veludo, poltrona e cadeiras vermelhas estilo Bauhaus ou Luiz XVI, mais paredes de espelho ou listradas branco e preto não estariam brigando ferozmente numa mesma sala? Pois foi assim, com mais um porcelanato branco cobrindo o chão, vasos altos vermelhos, almofadas com tecidos asiáticos, uma grande tela dourada e outras das mais variadas origens que Sig Bergamin decorou um apartamento em Paris na Place Vendôme.
Esse en plus, esse “more is more” – para ele o mais só é menos quando o mais é feio – esse maximalismo referenciado em múltiplas fontes e etnias (porém com a cara, o calor e o colorido do Brasil) está sendo celebrado em “Maximalism: by Sig Bergamin” recém editado em inglês pela Assouline, com sessões de lançamento previstas para o início de dezembro em São Paulo, Nova York e Miami, e já à venda na Amazon.
Bastaria seu peso (5 quilos) para a obra já ser considerada ‘maximal’. São 340 páginas e 230 imagens clicadas por Born Wallander, um veterano da Architectural Digest. Assina o foreword James Reginato, da Vanity Fair, que destaca que apesar de Sig ser um cultivado conhecedor de arte e antiguidades, há sempre algo de selvagem em seus trabalhos. Já a introdução é de Armand Limnander, da famosa revista W.
No prefácio de Vik Muniz, cujos quadros frequentam muitos dos interiores feitos por Sig, lê-se que “Se um jardim é uma conversa entre a razão humana e a floresta, os interiores de Sig são diálogos entre o conforto da casa e o caos do lado de fora. Dentro é como se viajássemos a lugares distantes sem sair de casa”.
Há também comentários de Hamish Bowles, editor at large da revista Vogue, do designer de moda Domenico Dolce e da nossa internacional e mestra da cor Beatriz Milhazes. Já o francês Pierre Frey, criador top de tecidos, tapetes e papéis de parede, comenta como Sig consegue usar seus produtos de forma única. Sig dedica o livro carinhosamente a seu companheiro de mais de dez anos, o também decorador Murilo Lomas.
Parte dos 100 top designers do mundo da Architectural Digest e da A list da Elle Décor, Sig Bergamin é um arquiteto que é visto como um decorador e que se autoproclama um garimpeiro. É “maximal” até na quantidade de cachorros que possui, e que respondem pelos nomes de Índia, China, América, África e Ásia – cantos desse mundo globalizado por onde Sig circula, fuçando, com seu olhar afiado, à cata de inspiração, do belo e do original. Caro ou barato, velho ou novo, precioso ou banal, desde que tenha algo a revelar, tudo, a seu ver, pode ser valorizado. Restos de tecido podem virar almofadas ou lindas cúpulas de abajur.
Seu estilo é o da incoerência, destituído de parâmetros, o que permite que cada coisa se distingua da outra de maneira harmoniosa e equilibrada.
Uma calça antiga do Laos pode ser emoldurada e se transformar em quadro. Passamanarias, galões e franjas coloridas aparecem sempre de forma inusitada. Sabe fazer do antigo o moderno. Cortininhas de bambu no lugar de um voile são usadas com charme. Cestos podem virar preciosidades. Lanternas chinesas levam luz de boate a uma varanda de casa de campo. Dá pra deduzir que Sig Bergamin tem compulsão e alma de colecionador. Há alguns anos, me disse que mantinha pelo menos quatro depósitos, cheios até o topo.
Desfazer-se desses achados dói-lhe o coração.
Sig adora receber em casa em mesas bem postas, originais, inesperadas, chiques de matar e de invejar. Diz-se um expert cozinheiro. Viaja mundo afora non stop, de avião grande ou nos jatinhos de clientes. Tem horror a tendências ou modismos, e não põe os pés nas feiras de Milão. Sig é sua própria feira.
‘Maximalism’ será lançado dia 1 de dezembro em São Paulo; em New York, dia 4; e em Miami, dia 6.
Maria Ignez Barbosa é autora de ‘Gentíssima’, ‘Casas de São Paulo’ e ‘Histórias de Estilo e Décor’.