Dois dos principais escritórios do País estão perdendo sócios que ajudaram a construir suas franquias.
No Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados, o co-fundador Luis Antonio de Souza está de saída após um desentendimento com sua sócia de 17 anos, Maria Cristina Cescon.
No Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados, Sérgio Spinelli fica apenas até o fim de dezembro.
Os dois nomes estão entre os principais advogados societários do País e são ícones de seus escritórios. Luis é o ‘Souza’ do Souza Cescon, e Spinelli só não teve seu nome na placa porque não quis, segundo clientes do Mattos Filho.
A cizânia no Souza Cescon teve origem na decisão do escritório de contratar Esther Flesch, a ex-advogada do Trench, Rossi e Watanabe que negociava a leniência da JBS. Irmã do sócio-gestor do Souza Cescon, Marcos Flesch, Esther foi demitida do Trench Rossi depois de negociar a contratação do ex-procurador Marcelo Miller, que acabou em controvérsia.
O Souza Cescon iniciou o processo de contratação de Esther em julho. Inicialmente, Souza apoiou a ideia, mas quando mais fatos sobre o caso JBS vieram à tona, passou a se opor, o que abriu um fosso entre ele, Maria Cristina e Marcos.
Mas o caso Esther foi apenas a gota d’água. Pessoas próximas ao Souza Cescon dizem que os dois principais nomes na placa já vinham se desentendendo há tempos sobre os rumos do escritório — resultado da fadiga de material comum a qualquer relação, da diluição dos grandes sócios com a entrada dos novos, e da queda de faturamento com os anos de recessão.
“Eles são personalidades muito diferentes,” diz um cliente. “Ele é um gentleman, um cara que construiu relações de longo prazo. Ela é mais focada na defesa de minoritários em brigas societárias com controladores.” Clientes da firma disseram que, quando Luis abrir um novo escritório, deve levar clientes e sócios com ele.
A história de Luis se confunde com a do Souza Cescon. Ele e Maria Cristina fundaram a firma a partir de uma dissidência do Machado Meyer, onde ambos começaram a carreira. Mais que sócios, são amigos desde então. Maria Cristina é madrinha de casamento do Luis.
Um banqueiro que já trabalhou largamente com Luis diz que ele é “a âncora institucional do escritório, um cara que atraiu grandes clientes mesmo fora de sua área de atuação. O Luis nunca se preocupou em dividir seus clientes com outros sócios, sempre pensou no melhor para a firma.”
Luis construiu seu nome no mercado principalmente junto a clientes de project finance e infraestrutura. Foi o advogado que montou o project finance do Campo de Marlim — então o de maior envergadura no País — e assessorou a Petrobras em diversos outros projetos, de dutos a plataformas.
Ajudou a reestruturar os ativos da AES no Brasil, o que culminou com a criação da Brasiliana, sociedade da empresa americana com o BNDES. Assessorou a Hypermarcas em quase todos os seus M&As, e hoje assessora a Eletrobras na venda de suas SPEs.
Nos últimos anos, sua área ‘core’ de atuação perdeu relevância no faturamento escritório como resultado da crise e da Lava Jato, e o sócio-fundador assumiu um papel mais institucional.
Spinelli, que está no Mattos Filho há 31 anos, disse ao Brazil Journal que sua saída é fruto de “uma decisão tranquila e madura”, motivada por ele desejar uma mudança de vida na qual consiga ser mais dono de seu tempo. Fontes do Mattos Filho mantêm que a saída foi conturbada.
Ao longo de três décadas, Spinelli participou de M&As emblemáticos e de certa forma transcendeu a advocacia: tornou-se conselheiro de confiança de muitos empresários e foi ‘chairman’ de companhias.
Em nota, o Mattos Filho e Sergio Spinelli destacaram que “a decisão sobre a saída do Sergio da referida sociedade, ao fim deste ano, foi tomada por ambos, meses atrás, e está alicerçada sobre sólidos pilares do entendimento, concordância e de um relacionamento de amizade, grande respeito, admiração mútua e do trabalho conjunto de muito sucesso, realizado ao longo de 25 anos”.
Já o Souza Cescon disse que “a saída do sócio Luis Souza se deu em razão de visões diferentes sobre o futuro do escritório”, “não há qualquer tipo de mudança estrutural ou operacional no atendimento aos seus clientes e agradece pela inestimável contribuição do Luis ao escritório”.