BOSTON – Durante a conferência MBA Brasil 2022, aqui na Harvard Business School, perguntaram a Mansueto Almeida quais seriam suas prioridades caso estivesse no novo governo.
O ex-secretário do Tesouro e hoje economista-chefe do BTG Pactual disse que uma delas seria expor a iniquidade do sistema tributário – com seu excesso de tributos indiretos e a baixa tributação das PJs personalíssimas que estão hoje no regime de lucro presumido – e batalhar pela aprovação da reforma.
Outros pontos: manter os programas bem-sucedidos de concessões, como no caso dos aeroportos, e rever o engessamento dos gastos públicos obrigatórios.
Mansueto lembrou que as reformas recentes, iniciadas no Governo Temer, contribuíram para o crescimento. O desemprego está em queda, e a taxa de investimentos hoje é a mais alta desde 2014, um reflexo da expansão do setor privado.
Mas qual o risco do novo governo desmontar as reformas recentes e dar um cavalo de pau na economia?
Respondendo a uma pergunta da plateia – mais de 200 brasileiros, alunos de programas de MBAs nos EUA e na Europa – Mansueto disse que qualquer governo, mesmo em seu início, mantém interlocução com o setor privado porque quer ver a economia crescendo e gerando emprego.
“Apesar de algumas declarações sobre mudanças no marco regulatório, aos poucos o novo governo vai ver o que está funcionando e não tem porque mudar,” disse Mansueto.
Ele deu como exemplo os leilões que estão ocorrendo na área de saneamento. Ora, e se as concessões aumentarem os custos para o consumidor, como argumentam os críticos?
A melhor maneira de equacionar esse problema é criar subsídios específicos (achando o devido espaço no Orçamento para isso), jamais reverter as concessões, disse Mansueto.
Entre os erros do passado, o economista listou exageros com o uso dos bancos públicos até mesmo em funções típicas do mercado de capitais, como o financiamento de fusões e aquisições; a tentativa de reativação da indústria naval, que “claramente não deu certo”, e os gastos extraordinários com a realização da Copa do Mundo de 2014.
“Acho que esse tipo de erro não vamos fazer novamente,” afirmou Mansueto.
Para ele, a economia brasileira tem pelo menos dois setores – a energia renovável e o agronegócio – cujo crescimento já está contratado. “Para não acontecer, vamos ter que fazer muita besteira,” disse Mansueto.
Outro setor pronto para avançar é o de petróleo. “No mundo, o investimento em combustíveis fósseis foi o menor em 20 anos, e as grandes empresas estão reduzindo o capex – mas no Brasil não, com os investimentos na exploração do pré-sal.”
No ano passado, o País produziu 2,9 milhões de barris de petróleo/dia. Até 2029, esse volume deve chegar a 4,5-5 milhões de barris por dia.
Mansueto fez ontem o discurso de abertura da primeira edição da conferência MBA Brasil 2022, na Harvard Business School.
“O Brasil tem condições de performar bem nos próximos anos, crescer e reduzir desigualdades,” disse Mansueto. “Não apenas com programa de distribuição de renda, mas com investimento em educação.”
LEIA MAIS: Mansueto Almeida: “Cuidar das contas é cuidar das pessoas”
O repórter viajou a convite da conferência MBA Brasil 2022. Foto de Isabela Rosa.