A Casa & Vídeo e a Le Biscuit, duas redes de utilidades domésticas com portfólios parecidos e geografias complementares, estão fundindo suas operações — criando uma empresa com faturamento perto de R$ 3 bilhões e quase 400 lojas em todo o Brasil.
A Polo Capital — hoje o único acionista da Casa & Video — ficará com 74,8% da empresa combinada. O restante ficará nas mãos dos acionistas da Le Biscuit: fundos de private equity da Vinci Partners e da Siguler Guff, uma gestora americana; além da família Santana, que fundou a Le Biscuit em 1968 em Feira de Santana, na Bahia.
A Polo terá quatro dos sete assentos do conselho da nova empresa e vai eleger o chairman – provavelmente Marcos Duarte, o sócio-fundador da gestora.
A transação une duas empresas com uma complementaridade geográfica expressiva — a sobreposição das lojas é zero — e potencial para extrair sinergias relevantes tanto em vendas quanto em custos.
O CEO da Casa & Video, Ivo Benderoth, disse ao Brazil Journal que estima sinergias da ordem de R$ 150 milhões ao longo dos próximos cinco anos, o que representaria um ganho de 5 a 6 pontos percentuais na margem EBITDA da companhia combinada.
“Essa fusão casa muito,” disse Ivo, que vai comandar a nova empresa. “Primeiro pela diluição dos custos fixos, mas também porque, para manter a nossa proposta de valor de entregar bons preços, precisamos de volume para ter poder de barganha.”
Segundo ele, a fusão também fortalece muito a alavanca de expansão da nova companhia. “Vamos ter muitas praças onde as marcas são fortes e onde poderemos expandir com uma maturação rápida das lojas.”
Enquanto a Casa & Vídeo é muito forte no Rio de Janeiro e no Espírito Santo e está começando a crescer em Minas Gerais, a Le Biscuit tem todas as suas lojas no Norte e Nordeste, onde é uma marca de referência em coisas para o lar.
Os portfólios das duas redes têm uma interseção de cerca de 85% das categorias, mas há nichos em que cada uma tem uma expertise que pode ser usada na outra rede.
A Le Biscuit, por exemplo, tem parte importante de suas vendas vindo de produtos para eventos sazonais, como Halloween, Natal, Volta às Aulas e Dia das Crianças.
“Vamos usar o know-how que a Le Biscuit tem para trazer essas categorias para dentro da Casa & Video,” disse Ivo.
Eduardo Loges, o CEO da Le Biscuit, disse que essas categorias geram muito fluxo para as lojas. “Quando o cliente vai à loja comprar esses produtos sazonais, ele acaba comprando outras categorias também.”
Outro ponto forte da Le Biscuit que a Casa & Vídeo planeja incorporar são as marcas próprias, que representam 30% das vendas da Le Biscuit e têm preços menores e margens maiores que os produtos de marca (a margem EBITDA da marca própria é, em média, 10 pontos superior). Na Casa & Vídeo, as marcas próprias são apenas 8% da receita.
A transação vem alguns meses depois da Le Biscuit ajustar sua estrutura de capital. Em setembro, a varejista fez um aumento de capital de R$ 75 milhões com seus acionistas e renegociou com os credores dívidas da ordem de R$ 180 milhões, alongando o prazo e melhorando os covenants.
Como parte da transação, os acionistas da nova empresa se comprometeram a fazer um novo aumento de capital, de R$ 125 milhões.
A fusão também vem depois das duas empresas tentarem IPOs no ano passado, que acabaram adiados.
Agora, Ivo acredita que a nova empresa está ainda mais forte para pleitear uma abertura de capital. “Estamos com um tamanho muito maior, um management e conselho de qualidade e um potencial enorme de sinergias,” disse ele. “Vamos estar preparados para fazer um IPO muito em breve.”