A Microsoft anunciou hoje a compra do GitHub – uma plataforma usada por desenvolvedores para compartilhar códigos de software – um movimento estratégico para ganhar mercado na computação em nuvem mas que também evidencia o declínio do Windows.
A Microsoft está pagando US$ 7,5 bilhões em ações para adquirir o GitHub, uma plataforma crucial para empreendedores no ecossistema mundial de software.
Startups e grandes empresas – incluindo a própria Microsoft, o Google e a Apple – usam os serviços do GitHub para desenvolver, de forma colaborativa, códigos de software. Códigos de programação de websites e apps para smartphones ficam depositados na plataforma do GitHub. São mais de 27 milhões de desenvolvedores trabalhando em mais de 85 milhões de macroprojetos na plataforma.
O anúncio provocou abalos na comunidade mais radical de desenvolvedores de software livre. Segundo sites especializados, o GitLab, um dos principais concorrentes do GitHub, viu seu tráfego disparar, com desenvolvedores migrando projetos após a notícia da compra pela Microsoft. Cerca de 50 mil projetos migraram para o GitLab desde ontem, quando começaram os rumores de uma venda (veja imagem abaixo).
Mas a Microsoft só deve ficar realmente preocupada se alguma grande empresa resolver encerrar sua conta, o que ainda não aconteceu. O principal temor para empresas e desenvolvedores é que agora a Microsoft terá acesso irrestrito a milhões de projetos privados hospedados no serviço pago do GitHub.
A empresa fundada por Bill Gates se tornou hegemônica com software proprietário – e porque conseguia atrair desenvolvedores a criar programas fechados para o Windows, então um produto desejado pelos consumidores e fabricantes de hardware.
Com essa estratégia, Microsoft virou o inimigo No. 1 da comunidade de software livre, que tinha seu próprio sistema operacional aberto, o Linux. Steve Ballmer, que comandou a empresa até 2014, costumava dizer que o software livre era ‘um câncer’ porque ameaça os direitos de propriedade intelectual.
Mas desde então, o sistema operacional virou commodity, e o negócio da vez agora se chama infraestrutura de computação em nuvem, um mercado dominado pela Amazon Web Services (AWS). Hoje a Amazon conta com desenvolvedores que criam produtos e serviços para os usuários da AWS. A Microsoft está correndo atrás, e espera atrair os melhores desenvolvedores para fazer o mesmo com a Azure, seu negócio de computação em nuvem.
Para quem tem acompanhado a Microsoft nos últimos quatro anos, a aquisição orquestrada pelo CEO Satya Nadella não chega a surpreender. Nadella vem da comunidade de software livre, e desde então vem tentando restaurar as relações com os desenvolvedores, sejam eles atuantes no ambiente Microsoft ou não, oferecendo ferramentas e serviços para o desenvolvimento de software.
Apesar das críticas, na comunidade de desenvolvedores houve quem ficasse aliviado pelo fato de a aquisição ter sido feita pela Microsoft. “Já imaginou se tivesse sido o Facebook”, brincou um deles no Twitter. “A gente iria abrir o GitHub hoje e ia estar cheio de Stories.”