Os acionistas da fundição Tupy estão novamente insatisfeitos com a interferência da BNDESPar na governança da companhia.
A Tupy disse na semana passada que a BNDESPar estava indicando o ministro da Defesa, José Múcio, para o conselho de administração, por conta da renúncia do conselheiro Marcio Spata, também indicado pelo braço de participações do BNDES.
Como o conselho foi eleito em abril de 2025 para um mandato de dois anos via voto múltiplo, a BNDESPar solicitou a convocação de uma assembleia para fazer a troca.
Em 2023, a BNDESPar fez uma movimentação semelhante: meses após a eleição do conselho, fez três trocas em suas indicações, nomeando à época os ministros Carlos Lupi (Previdência), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Vinicius Marques de Carvalho (CGU).
A BNDESPar é o maior acionista da Tupy, com 30,7% de participação, seguido pela Previ (27%) e a gestora Trígono (9,9%).
O presidente do conselho da Tupy, Jaime Kalsing, lamentou o desligamento de Spata “em especial neste momento, em que a companhia requer esforço de todos para a execução dos projetos em andamento, além de considerar inadequada a forma como promovida a substituição de membros do Conselho no curso dos respectivos mandatos”.
O conselheiro Mauro Cunha se disse decepcionado com a renúncia, “dando espaço para mais uma indicação política” (…) “em momento crítico de deterioração de resultados da companhia, e logo após uma difícil e dispendiosa renegociação de covenants de dívidas”.
Também descontente com a interferência da BNDESPar, a gestora Charles River, que tem 4,4% da Tupy, solicitou ontem a convocação de uma assembleia para discutir uma reforma no estatuto da companhia, para incluir “requisitos de elegibilidade de membros do conselho de administração e da diretoria.”
“Está sendo repetido o mesmo script. E, vendo isso, estamos tentando melhorar a governança e a administração da empresa,” Camilo Marcantonio, um sócio da Charles River, disse ao Brazil Journal. “Dado que um mesmo acionista repetidamente está indicando pessoas com vinculação política para o conselho e que, na nossa avaliação, não têm a disponibilidade de tempo, além de experiência e competências para contribuir com a empresa, estamos propondo critérios de elegibilidade mínimos para a administração.”
Entre os critérios, está o veto a conselheiros com vinculações políticas e, para a diretoria, a exigência de experiência executiva de liderança comprovada para a posição. Em abril, BNDESPar e Previ votaram pela troca do CEO da Tupy, o que também gerou desgaste entre os demais acionistas.
A Charles River fez o pedido de convocação da assembleia sozinha por conta dos prazos apertados, mas entende que terá o apoio de outros acionistas.
A solicitação é que a assembleia seja convocada antes ou que o tema seja discutido em conjunto com a assembleia para eleição de conselheiro pedida pela BNDESPar, “já que um tema impacta no outro”.
A BNDESPar disse ao Brazil Journal que “a indicação de lideranças dos setores público e privado para conselhos de administração das investidas da BNDESPar busca levar experiência às instâncias estratégicas dessas empresas, em seu melhor interesse, sem descuidar dos interesses do BNDES e do seu controlador.”
“Além disso, todas essas indicações seguem regras legais aplicadas ao mercado de capitais, bem como estão em consonância com as melhores práticas de governança corporativa, prestigiando a diversidade na composição do Conselho de Administração. No caso da indicação do ministro Múcio para o conselho da Tupy, trata-se de um profissional com larga, exitosa e reconhecida experiência de gestão. Engenheiro civil de formação, Múcio já foi ministro e presidente do TCU, deputado federal por cinco mandatos, além de prefeito de Rio Formoso e secretário de Planejamento do Recife. Portanto, cumpre todos os requisitos e possui excelente qualificação para desempenhar a função em questão.”
Além da troca no conselho de administração, a BNDESPar também indicou um novo conselheiro fiscal para a empresa.
Foi um ano de dificuldades para a Tupy. Desde abril, quando houve a troca de CEO, a ação cai 50%. Além das questões de governança, que afastam investidores, a empresa enfrenta dificuldades operacionais.
O principal negócio da Tupy é o fornecimento de componentes estruturais para caminhões e veículos pesados, do agro, e grande parte desses componentes são exportados.
“Ela atende a poucos e grandes clientes. Mas esse mercado de ‘pesados’, principalmente nos EUA, enfraqueceu muito nos últimos 12-18 meses por conta de juros altos, tarifas, entre outros motivos,” disse um analista que cobre a empresa. “Diante do cenário adverso, o frete diminuiu e as frotas não estão sendo renovadas. A Tupy, que fornece componentes, é a primeira empresa da cadeia a sentir isso, e ela vem sofrendo com a queda de pedidos ao longo do ano. Internamente, o agronegócio também enfraqueceu. Ela vai entrar 50% do EBITDA esperado para o ano. Isso está refletido nas ações.”
Por conta do enfraquecimento do EBITDA, a Tupy teve de renegociar os covenants de sua dívida de 3,5x para 5,5x.
A companhia vale R$ 1,7 bi na Bolsa.











