CAMBRIDGE, Massachusetts – “Nos últimos dois anos, não fomos muito bem sucedidos,” Jorge Paulo Lemann disse na abertura da Brazil Conference, hoje pela manhã no Harvard Science Center. 

“Estamos falando de 30 mil funcionários,” disse o empresário, referindo-se à Americanas. “Precisamos tentar salvar a empresa.” 

Ao comentar os “insucessos” de sua trajetória, mas sem mencionar por nome a Americanas, o empresário disse que “precisamos entender por que não foi um sucesso e não olhar necessariamente como fracasso.” 

“É como perder um match no tênis.”

Falando na condição de chairman da Lemann Foundation, o empresário foi entrevistado por Daniel Shapiro, fundador e diretor do Harvard International Negotiation Program. O tema do painel foi a arte da negociação no empreendedorismo. 

De sua carreira no tênis profissional, Lemann disse ter aprendido a “ler os adversários e a tomar riscos.”

“Foi muito, muito importante para mim. Os estudantes, em geral, não assumem muitos riscos. Quanto mais estudam, menos riscos tomam.”

Não deixa de ser irônico que Lemann, um filantropo dedicado a aprimorar a educação e o ensino, faça ressalvas ao estudo acadêmico.

O empresário lembrou que, quando avaliou um dos negócios mais importantes de sua carreira, “os PhDs eram todos contra, e os traders eram a favor”.

Falta aos PhDs “gut feeling,” disse Lemann. “Não tomar risco é um risco.”

A decisão de comprar a Brahma, segundo ele, não foi determinada por cálculos de fluxo de caixa descontado nem outra análise técnica. O potencial do negócio foi avaliado de maneira “muito simples.”

“O Brasil era um país jovem, muito quente. A empresa era mal-administrada,” disse Lemann.

O empresário disse que, quando chegou a Harvard para estudar Economia, não estava preparado para acompanhar o ensino na universidade. Desenvolveu então um método de focar os estudos em cinco pontos essenciais de cada matéria – uma estratégia que levaria à administração de seus negócios.

“Sempre procuro a questão central e como tornar o problema mais simples,” afirmou. “Usei isso em Harvard e na minha vida.”

Lemann disse que ele e os sócios Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira estão reavaliando a governança de seus negócios e buscando aprender com grupos que sabem administrar melhor grandes corporações.

O empresário disse que um dos pontos foi rever a cultura de promover executivos treinados internamente. 

Para Lemann, as pessoas acabam ficando muito parecidas, fazendo as coisas da mesma maneira, e o time fica “menos adaptável para um mundo em transformação.”

“Eles [os que cresceram na cultura 3G] não aceitavam gente de fora, e estamos mexendo nisso,” disse Lemann.

Lemann disse que a governança das empresas do grupo precisa evoluir, já que os controladores não poderão mais dedicar tanto tempo quanto antes.

“Estamos ficando velhos. Teremos que criar um sistema diferente do que tivemos no passado, quando nós estávamos à frente. Teremos que trabalhar com diferentes conselhos em diferentes governos,” afirmou. 

“Existem pessoas semelhantes a nós em todo o mundo e que estão fazendo um trabalho melhor de governança de grandes corporações,” afirmou. “Temos que aprender com eles e deixar de ser operadores, criando um sistema onde essas empresas possam continuar crescendo pelo maior tempo possível.”

Para o empresário, o sucesso – seja no esporte, nos serviços públicos ou no mundo empresarial – requer objetivos claros, avaliação constante do que está sendo feito, e muito trabalho. Ter ideias “um pouco diferentes” do que os outros estão fazendo também é fundamental.

“Ser bem-sucedido e ajudar os outros a serem bem-sucedidos é o melhor jeito de fazer um mundo melhor,” disse Lemann.

PARA ASSISTIR À CONFERÊNCIA

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