A B3 proibiu dois acionistas fundadores da Kora Saúde de votar na assembleia que vai definir a saída da rede de hospitais do Novo Mercado, dizendo que os dois são vinculados ao controlador.

A decisão é um golpe duro para a HIG Capital, a controladora da Kora com 68% do capital.  A gestora de private equity – que já estava impedida de votar na matéria – pediu a saída da companhia do Novo Mercado no mês passado.

Os dois acionistas agora impedidos pela B3 são Bruno Moulin Machado, que tem 7,1% do capital, e Ivan Lima, com 3,9%. 

Os dois estavam sendo considerados pela companhia como parte do free float, apesar de fazerem parte do acordo de acionistas que inclui a própria HIG, o CEO Antonio Benjamim Neto, e Frederico Torezani, um membro do conselho. 

Caso os dois pudessem votar, o resultado da AGE já estaria definido, uma vez que eles teriam mais de 50% do free float de 20,3%. 

“Querer comprar barato, ok. Eu também quero. É do jogo,” disse um gestor comprado no papel, que vai votar contra a saída. “O problema é querer forçar isso goela abaixo do minoritário, aprovando o negócio com dois caras que fazem parte do acordo de acionistas.” 

“É aquela história: o cara tem tapa-olho, papagaio no ombro, perna de pau – e vem falar que não é pirata? Estava claro que os dois eram vinculados ao controlador.”

Com o impedimento de Bruno e Ivan de votar, agora apenas 9% do capital será considerado free float e poderá participar da AGE. Deste total, cerca de 30% estão nas mãos de cinco gestoras: a Fourth Sail, Polo Capital, Ace Capital, Iridium e Leblon Equities. 

O restante está pulverizado nas mãos de milhares de investidores pessoa física que provavelmente não participarão da assembleia. 

O pedido para que a B3 desse um parecer sobre o assunto foi feito por um dos minoritários da Kora há duas semanas. Com a resposta da Bolsa, a Kora disse que a assembleia – que estava marcada para amanhã – terá que ser cancelada, já que o quórum atual é de menos de 35% do novo free float.

O próximo passo será chamar uma segunda convocação, na qual a aprovação depende apenas da maioria simples de quem estiver presente. (Na primeira convocação são necessários pelo menos dois terços dos votos). 

A próxima briga entre os minoritários e a HIG será sobre quando esta segunda convocação vai acontecer. 

“Nosso entendimento é que quem tem que fazer essa convocação é a companhia, e não o controlador. E que ela tem que fazer isso rápido,” disse o gestor. “Mas o controlador vai tentar empurrar com a barriga… ganhar tempo e tentar recorrer dessa decisão da B3, porque ele sabe que se for pra votação agora, ele perde.”