Com sua vitória no leilão da PPP da Sanepar na sexta-feira, a Aegea estreou no Paraná com um modelo que vai demandar pouco capex e que deve gerar um retorno rápido para a gigante do saneamento.
Apesar de pequena para o tamanho da Aegea, a parceria público-privada já deve começar a gerar caixa no segundo ano de operação, permitindo que parte do investimento de R$ 1,2 bilhão seja bancada pelo próprio negócio.
“É um modelo que não tem impacto forte de capital, que não vai onerar o nosso balanço – diferente da Cedae, que teve uma outorga alta, e da Corsan, em que tivemos que comprar a participação do Governo do Estado,” o CFO André Pires disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, a PPP também é estratégica porque vai posicionar a Aegea num estado onde ela ainda não estava, o que pode tornar PPPs futuras na região mais atrativas para a companhia.
O Governador Carlos Massa “Ratinho Jr.” já disse que a Sanepar pretende levar a leilão pelo menos mais dois lotes de PPPs, que devem demandar investimentos de mais R$ 3,5 bilhões.
“No Ceará fizemos algo parecido. Ganhamos primeiro o município de Crato, que tinha só 100 mil habitantes, e depois, em dezembro, ganhamos duas concessões da Cagece que somavam mais de 5 milhões de habitantes,” disse o CFO.
André disse que já há alguma sinergia entre a PPP da Sanepar e a Corsan, que opera cidades do Rio Grande do Sul. Por ambas estarem na região Sul, elas vão usar a mesma estrutura administrativa, reduzindo custos.
A PPP da Sanepar engloba o serviço coleta e tratamento de esgoto de 16 cidades das regiões central e litoral do Paraná, somando 500 mil habitantes.
O perfil dos municípios é variado: há desde Campo Largo, com 100 mil habitantes e um índice de cobertura de esgoto de 75%, até cidades pequenas cujo nível de esgotamento está próximo de zero.
O compromisso da Aegea é atingir a universalização do sistema de esgoto nessas cidades até 2033. Caso a empresa consiga antecipar esses prazos (e reduzir o capex projetado), ela pode turbinar o retorno da operação.
A Aegea ganhou o leilão com um deságio de 30% em relação à receita-base do certame, oferecendo cobrar R$ 3,19 por metro cúbico de esgoto tratado ante os R$ 4,60 iniciais.
Nesse tipo de contrato, a tarifa paga pelos consumidores continua indo para a Sanepar, que depois repassa ao operador da PPP o valor combinado em contrato.
Para evitar qualquer risco, o valor do contrato fica segregado numa ‘escrow account’, que é administrada por bancos terceiros, encarregados de repassar os recursos.
A disputa foi concorrida e chegou ao leilão viva-voz.
Além da Aegea — que ganhou com um consórcio que tem a Perfin e a Kinea de sócios — participaram do leilão a Iguá Saneamento, a espanhola Acciona e um grupo de operadores de médio porte.
A receita da PPP deve ser uma fração da receita total da Aegea, que somou R$ 8,6 bilhões nos últimos doze meses encerrados em março.
A companhia fechou o primeiro trimestre com uma alavancagem de 3,25x EBITDA, sem considerar a alavancagem da Cedae e Corsan, que ainda não estão consolidadas. Considerando as duas concessões, a “alavancagem sobe um pouco, mas ainda num nível administrável,” disse o CFO.
Para melhorar a estrutura de capital (e o retorno) do projeto, a Aegea vai buscar financiamentos de longo prazo com organismos multilaterais e bancos de fomento quando começar a acelerar o capex da PPP.
Isso, no entanto, deve ter impacto “nulo” na alavancagem da empresa, segundo André.
Sobre o IPO da Aegea, o CFO disse que o tema é sempre discutido, “mas não está quente.”
“Para os projetos que temos hoje, já estamos equacionados, porque temos criado estruturas específicas para fazer frente a cada um deles,” disse ele. “Já para o processo de crescimento futuro, os acionistas estão avaliando várias alternativas de capitalização, entre elas o IPO.”