A guerra de Donald Trump com a China abateu as ações da Nvidia e de outras empresas que fornecem a infraestrutura da nascente indústria da inteligência artificial.
A Nvidia, que controla 90% do mercado de processadores de IA, disse que vai lançar em seu balanço deste trimestre perdas de US$ 5,5 bilhões por causa de novas restrições impostas pelo Governo dos EUA às exportações de chips de última geração para a China.
As ações da companhia mergulharam 7%; no ano, a perda chega a 22%.
A decisão mostra que não deu resultado a conversa que o CEO da Nvidia, Jensen Huang, teve com Trump no início do mês, em Mar-a-Lago.
A empresa havia desenvolvido uma unidade de processamento gráfico (GPU) de ‘segunda linha’ – a H20 – especialmente para cumprir as especificações determinadas no governo de Joe Biden de restrições ao mercado chinês.
Um analista do Morgan Stanley estimou que a performance do H20 fica em torno de 75% abaixo dos processadores da família H100, porque o chip possui uma arquitetura de uma geração anterior.
Mas agora, Trump determinou que nem essa linha de processadores poderá chegar à China nem a outros países que possam ser usados de ‘rota alternativa’ pelos importadores chineses. Com isso, a Nvidia será obrigada a registrar o prejuízo das vendas não realizadas.
Essa é uma disputa geopolítica que vai além da guerra comercial de Trump. Um dos principais fronts dessa batalha é a corrida pela supremacia na tecnologia de chips avançados e inteligência artificial.
Os analistas do Bank of America estimaram que os embargos deverão reduzir o faturamento da Nvidia entre 5% e 8%, embora a empresa não detalhe o total de vendas do H20.
O BofA considerou que o impacto era esperado e o classificou como ‘risco administrável.’ O banco manteve a recomendação de compra para o papel, com alvo de US$ 160, ante um preço de tela de US$ 100.
Analistas da Bernstein estimam que os H20 deveriam representar US$ 12 bi de um um total de US$ 17 bi em receitas da Nvidia no mercado chinês este ano. Para o Morgan Stanley, as restrições foram mais duras do que as precificadas.
Trump está determinado a apertar ainda mais os vetos de exportação de tecnologia aos chineses, elevando as barreiras criadas por Biden.
A AMD também será impactada pelas novas restrições, que atingem os produtos da linha MI308, e estimou as suas perdas em US$ 800 milhões. As ações da companhia também despencaram 7% hoje.
A holandesa ASML, fabricante das máquinas usadas na produção dos processadores de última geração, já sentiu os efeitos da disputa e reportou encomendas abaixo do esperado. As ações caíram 5,9%.
Segundo a Bloomberg, o selloff dos papeis da indústria de semicondutores nos últimos três meses já provocou uma destruição de US$ 2 trilhões em valor de mercado.