Alberto Salazar — o famoso treinador de atletismo que lidera uma equipe patrocinada pela Nike e dá nome a um dos prédios da empresa — foi banido ontem pela Agência Antidoping Americana, acusado de traficar testosterona e realizar experimentos com doping.

Vinte e quatro horas depois, uma reportagem do The Wall Street Journal está jogando luz sobre outra faceta dessa história — ainda mais bombástica.

Ao que tudo indica, o CEO da Nike, Mark Parker, sabia de tudo.

O jornal revelou hoje uma série de emails trocados entre Salazar, o médico Jeffrey Brown e Parker. O conteúdo: descrições detalhadas de experimentos em que o treinador manipulava drogas para melhorar o desempenho de atletas, enquanto o CEO da Nike acompanhava tudo e opinava.

As mensagens fazem parte de um relatório da Agência Antidoping Americana e foram reportadas em primeira mão pelo WSJ.

Segundo o relatório, pelo menos um dos experimentos — feito para determinar se o uso de um creme tópico de testosterona provocaria ou não um teste positivo de doping — foi realizado dentro da própria sede da Nike.

Numa das mensagens, de 2009, Brown debate com Parker a execução desse teste.

“Testamos os níveis nas triagens comumente usadas no atletismo para os índices de T/E (testosterona/epitestosterona) depois de uma dose (1,25 gramas) e duas doses (2,5 gramas) de Androgel. Descobrimos que apesar de haver um leve aumento nos índices de T/E, eles ficaram abaixo do nível 4 que poderia causar preocupações,” escreveu o Dr. Brown.

Ao que Parker respondeu:

“Obrigado pelo update sobre os testes. Vai ser interessante determinar a quantidade mínima de hormônio masculino tópico necessária para criar um teste positivo. Existem outros hormônios tópicos que criariam resultados mais dramáticos… ou outras substâncias que acelerariam a taxa de absorção no corpo?”

(A testosterona é uma substância banida pela Agência Antidoping Mundial, pelo Comitê Internacional Olímpico e por diversas outras organizações ligadas aos esportes).

Segundo a reportagem, em outra troca de emails, de 2011, Salazar informou diretamente a Parker, ao presidente de inovação da Nike, Tom Clarke, e ao ciclista Lance Armstrong sobre os resultados de outro experimento com um suplemento chamado L-Carnitine, que melhora a performance aeróbica.

Alguns meses depois, mandou outro email diretamente a Armstrong. “Lance, me ligue o quanto antes! Testamos ele e é incrível!” disse. “É impressionante. Completamente legal e natural. Você vai completar o ‘Iron Man’ 16 minutos mais rápido tomando isso.”

Como se sabe, Armstrong esteve no epicentro de um escândalo de doping e teve seu contrato com a Nike rescindido em 2012.

A justificativa de Salazar, segundo o relatório da agência, é que ele desenvolveu o experimento com testosterona depois de ficar preocupado que seus atletas pudessem ser vítimas de sabotagem de outros competidores. Ele argumenta que a ideia era usar o teste para identificar essas sabotagens.

 

“Mark Parker não fazia ideia de que o teste estava fora de qualquer regra, pois havia um médico envolvido,” um porta voz da Nike disse ao The New York Times. “Além disso, o entendimento de Mark era de que Alberto estava tentando impedir o doping de seus atletas.”

As revelações do jornal acontecem na véspera de uma das competições mais importantes de atletismo do mundo — onde pelo menos sete atletas patrocinados pela Nike vão competir — e, se comprovadas, devem se tornar uma das maiores crises de imagem da história da empresa.

Mas Parker pode não cair. Ele se mostrou resiliente a várias outras crises de imagem e tem o preço da ação a seu favor: a Nike está em sua máxima histórica.