As taxas longas de juros abriram hoje pelo segundo dia consecutivo, refletindo a visão cada vez mais pacificada no mercado de que o Banco Central precisará atuar de forma mais dura para atingir a meta de inflação.
A NTN-B com vencimento em 2033, que ontem fechou em IPCA + 6,46%, subiu hoje para IPCA + 6,57%, com o mercado ainda digerindo o comunicado do Banco Central de que fará o que for preciso para controlar a inflação.
O BC disse que o ritmo e a magnitude do ciclo de alta “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.” (Ou seja: morreremos todos.)
Já o pré-fixado de 10 anos abriu 0,27 ponto (de 12,06% para 12,34%) — o que significa que a inflação implícita também subiu 0,16 ponto percentual, diferente de ontem, quando a alta foi só do juro real.
O dólar e a Bolsa também se contaminaram. O Ibovespa despencou 1,55% hoje, enquanto o dólar subiu 1,5% e voltou a romper o patamar de R$ 5,50.
“Não é só uma questão de sustentabilidade fiscal a médio e longo prazo. Há uma preocupação crescente com os efeitos fiscais no curto prazo,” disse Rodrigo Moraes, o CIO do wealth management da BR Partners. “Está cada vez mais claro que com o fiscal estimulando a atividade e gerando renda, o BC vai ter que aumentar mais os juros do que se esperava antes.”
Enquanto ontem a curva de juros precificava um aumento de 0,55 ponto na próxima reunião do Copom, em 7 de novembro, e de 0,45 ponto para a reunião de 12 de dezembro, hoje ela passou a precificar uma alta de 0,60 e 0,48, respectivamente.
Essa mudança nas expectativas levou a muitos ‘stops’ nos juros hoje, com traders e investidores — especialmente os estrangeiros, que estavam apostando numa queda dos juros — jogando a toalha em suas posições.
O movimento de ‘stop’ ajudou a intensificar a abertura das taxas.
O CIO da BR Partners notou ainda que os múltiplos incêndios no País nas últimas semanas estão levando o mercado a questionar “se isso não pode ter um impacto na inflação, com um aumento nas tarifas de energia, por exemplo.”
Outro ponto que ajuda a intensificar a volatilidade é a expectativa em relação ao relatório bimestral do Governo de receitas e despesas, previsto para ser publicado no início da noite de hoje.
Dado que as projeções orçamentárias não estão sendo cumpridas, o mercado espera que o governo sinalize um contingenciamento de despesas.