“When you’re backed against the wall, break the goddamn thing down.”  — Harvey Specter, in “Suits”.

 

O homem mais rico do mundo acusou um tablóide de extorsão e chantagem — transformando o que antes era uma mera fofoca sobre um caso extraconjugal de Jeff Bezos numa provável investigação criminal.

A ameaça feita pelo National Enquirer: publicar fotos íntimas que o fundador da Amazon teria enviado a sua amante, Lauren Sanchez, caso o empresário não cumpra duas condições. 

A primeira: parar imediatamentes as investigações sobre como o Enquirer teve acesso às suas mensagens de texto, que deram origem ao furo do tablóide. A segunda: declarar publicamente que nem ele nem Gavin de Becker, o investigador e segurança particular de Bezos, “tinham base ou conhecimento para sugerir que a cobertura da American Media Inc. [a dona do Enquirer] fosse influenciada por motivações políticas.” 

Esta exigência é uma resposta à entrevista dada por de Becker ao Daily Beast há cerca de uma semana, na qual o segurança disse que “evidências fortes apontam para motivações políticas na cobertura da AMI”.   

O nome de Donald Trump não está diretamente envolvido no escândalo, mas o contorno político não pode ser ignorado. David Pecker, o dono da AMI, é um velho amigo do presidente, e sempre ajudou a ‘matar’ matérias desfavoráveis ao amigo. Trump, por sua vez, odeia o The Washington Post — o jornal de Bezos — pela cobertura crítica que faz de seu governo. 

A briga entre Bezos e o National Enquirer começou mês passado. 

No mesmo dia em que Bezos anunciou seu divórcio de Mackenzie Bezos, sua esposa por 25 anos, o Enquirer deu capa para a notícia de um caso entre Bezos e Lauren Sanchez, uma ex-âncora de TV.  O curioso: o jornal citava mensagens de texto particulares trocadas pelos dois. 

Logo após a publicação da reportagem, Bezos contratou os investigadores para descobrir como as mensagens foram obtidas e se havia alguma motivação por trás da cobertura. 

A história começou a ganhar tons mais sérios semanas depois, quando Bezos foi avisado por um alto executivo do Enquirer que Pecker estava “furioso” com as investigações. 

“Dias depois do aviso, fomos abordados com uma oferta. Eles falaram que tinham mais mensagens e fotos minhas, e que iriam publicá-las caso não parássemos nossa investigação,” Bezos escreveu no post publicado ontem à noite. 

Na sequência, o time jurídico de Bezos recebeu dois emails assinados por Dylan Howard, o “chief content officer” da AMI com uma descrição detalhada das fotos que o Enquirer supostamente tem em mãos e com os termos do acordo, incluindo as duas exigências.

“Ao invés de capitular à extorsão e à chantagem, decidi publicar exatamente o que eles me enviaram, a despeito do custo pessoal e do constrangimento com que me ameaçam,” escreveu Bezos. “Se na minha posição eu não puder resistir a esse tipo de chantagem, quantas pessoas podem?” 

O Enquirer alega que as fotos têm ‘valor jornalístico’ porque o affair de Bezos supostamente informa as pessoas sobre sua capacidade de tomar decisões como empresário. (Try again, Pecker!)

O National Enquirer sempre fez jornalismo de sarjeta, mas o nível da lama está subindo.

O tablóide é investigado por promotores federais por supostos pagamentos feitos antes da eleição de 2016 para silenciar uma mulher que alegava ter tido um caso com Trump, a modelo Karen McDougal. 

O Enquirer comprou os direitos de publicação da história assegurando que as alegações não seriam compartilhadas com outros veículos, e, em seguida, nunca publicou a reportagem — uma prática conhecida como “catch and kill.”

A íntegra do post em que Bezos revela a suposta chantagem está aqui.