O custo do gado nos Estados Unidos pressionou mais uma vez o resultado da JBS, uma situação atenuada pela diversificação cada vez maior do portfólio da companhia.

A companhia dos Batista viu seu EBITDA despencar 65% no quarto tri, para R$ 4,5 bilhões, enquanto o lucro líquido caiu outros 63% para R$ 2,3 bilhões, ambos em cima de uma base de comparação alta.

O lucro líquido – que o JP Morgan estimava em R$ 433 milhões – foi ajudado pelo reconhecimento de R$ 1,8 bilhão em créditos fiscais.

O CEO Gilberto Tomazoni disse que as pressões de custo continuaram no primeiro tri deste ano, e que o custo do gado não deve cair tão cedo.

“Não acho que vai ter um arrefecimento, porque está tendo um descarte grande. A produção não vai ficar muito diferente do ano passado,” ele disse ao Brazil Journal.

Na pandemia, os estímulos dados à economia se traduziram em um aumento de vendas que mais tarde arrefeceu, afetando diversas empresas no setor. “Todo mundo se preparou para um consumo que não veio,” disse Tomazoni.

No quarto tri, a margem EBITDA do negócio de carne bovina na América do Norte – o principal negócio da JBS, que responde por 28% do top line – despencou para 3,6%. (Essa margem havia sido 8,7% no terceiro tri e 21,7% no quarto tri de 2021.)

No negócio de frango da JBS, a Pilgrim’s Pride Corp, a queda no preço dos big birds – o produto mais commodity – também pressionou as margens, que desabaram de 12,6% no terceiro tri para 4,1% no quarto.

Os destaques positivos do trimestre foram a JBS Austrália e a JBS US Pork, que tiveram expansões de margem EBITDA de 2 pontos e 0,6 ponto, respectivamente, na comparação com o terceiro tri.

Nos últimos anos, a JBS avançou muito na diversificação de seu negócio para escapar da ciclicidade do mercado bovino.

Essa plataforma multiproteínas e multigeográfica, que começou com a compra da Seara há dez anos, tem se refletido nas margens da companhia, que, apesar do último ano, estão em trajetória ascendente.

Entre 2008 e 2012, a JBS tinha uma margem EBITDA média de 5%. Essa margem cresceu para 7,7% nos cinco anos seguintes e, de 2018 a 2022, subiu para 10,2%.

Para este ano, Tomazoni disse que a estratégia da companhia continua sendo aprofundar sua diversificação geográfica e investir em marcas, diluindo cada vez mais o negócio de commodities em seu portfólio.

Dado a fragilidade da economia mundial, o CFO Guilherme Cavalcanti trabalhou para fortalecer o balanço.

Ao longo do último ano, a JBS alongou o prazo médio de sua dívida de 8,1 para 10 anos, e fixou a maior parte da sua dívida a juro pré-fixado. Nos anos anteriores, trocou a maior parte de seu endividamento bancário por bonds, que hoje perfazem 75% da dívida bruta de US$ 17,7 bilhões, e emitiu R$ 8 bilhões em CRAs, acessando pela primeira vez o investidor de varejo.

A empresa – que se tornou investment grade pelas três agências nos últimos dois anos – decidiu aumentar suas linhas de crédito rotativo em US$ 1 bi ao longo do ano para US$ 3,2 bi.  Somados ao caixa de US$ 2,5 bi ao final de dezembro, a JBS agora tem um war chest de US$ 5,7 bilhões para enfrentar um mercado incerto.

“Nosso caixa paga todas as amortizações de dívida até 2027 porque alongamos o prazo e tiramos todos os covenants,” disse o CFO. “Ter essa liquidez é um diferencial no ambiente de mercado atual. Daqui um ano e meio você vai ter uma consolidação desse mercado, muita gente não vai sobreviver.”

O CFO disse que a JBS está “seletiva em sua alocação de capital” – ou seja, mais conservadora ao considerar M&As – porque vê “valuations que podem ficar mais atrativos no futuro.”

A ação da JBS negocia a cerca de 5x EV/EBITDA, com a empresa valendo R$ 42 bilhões na B3.