A JBS anunciou uma série de iniciativas para aumentar sua responsabilidade na preservação da Amazônia, num esforço que o CEO Gilberto Tomazoni disse ser “um tiro de canhão” para dirimir quaisquer dúvidas sobre o compromisso ambiental da companhia.
No coração da iniciativa: um programa para mapear e monitorar os fornecedores indiretos da empresa na Amazônia Legal. A JBS já monitora seus 50 mil fornecedores diretos na região amazônica desde 2010, e já parou de fazer negócios com 9.500 neste período — quase mil por ano. Mas ambientalistas ainda ligam os fornecedores indiretos, até agora fora do radar da companhia, ao desmatamento.
Outra iniciativa: a constituição de um fundo para investir na conservação e restauração da floresta, no desenvolvimento sócio-econômico de comunidades locais, e em pesquisa científica e tecnológica ligada à preservação da região.
Além de investir R$ 250 milhões no fundo ao longo dos próximos cinco anos, a JBS se comprometeu a dobrar qualquer doação de outras empresas, fundos e governos até o limite de R$ 500 milhões.
“O que fizermos nesta próxima década vai impactar diretamente o futuro das próximas gerações, e se a gente não assumir a responsabilidade, é a humanidade que vai perder,” Tomazoni disse ao Brazil Journal. “Estamos todos interconectados e interdependentes.”
Para agregar expertise e legitimidade aos esforços de preservação, as decisões de alocação dos recursos serão tomadas por um conselho composto por executivos, ambientalistas e pesquisadores.
A companhia reuniu pesos-pesados do mundo corporativo, como Alessandro Carlucci, o ex-CEO da Natura; Ronaldo Iabrudi, o chairman do Grupo Pão de Açúcar; e Noël Prioux, o CEO do Carrefour Brasil.
Do lado dos ambientalistas, trouxe nomes como André Guimarães, presidente do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM); Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP; Cira Moura, do Consórcio Amazônia Legal, que reúne os nove estados da região; Virgilio Viana, da Fundação Amazonas Sustentável; e Caio Magri, do Instituto Ethos.
A presidente do fundo será Joanita Karoleski, a ex-CEO da Seara.
Empresas de proteína que tenham sua cadeia associada ao desmatamento da Amazônia correm dois riscos: mercados importadores podem se fechar da noite para o dia, e investidores podem excluir as companhias de suas carteiras.
Há dois meses, por exemplo, o Nordea Asset Management, uma gestora sueca com € 220 bilhões sob gestão, disse que não investiria mais na JBS por “falhas relacionadas à questões ambientais e de governança.”
Para evitar ser penalizada pelos erros de terceiros, a JBS disse que no máximo até 2025 terá 100% de seus fornecedores indiretos monitorados — e vai ajudar os que estão em desacordo com as normas a se adequar ao padrão ambiental da companhia. “Temos que estimular a inclusão dos produtores, temos que ajudá-los a se adequar,” disse Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade da JBS.
A JBS vai persuadir seus fornecedores diretos a compartilhar suas guias de trânsito animal (GTA) — o documento que inclui a procedência e o destino do gado — com uma plataforma de blockchain que está sendo desenvolvida pela companhia.
Cruzando dados, a tecnologia conseguirá determinar os fornecedores indiretos que estão em violação das políticas da empresa, que, além do desmatamento, vetam produtores associados a trabalho escravo e que mantenham atividade em áreas embargadas pelo Ibama, regiões de conflito agrário e comunidades indígenas e quilombolas.
Até agora, o compartilhamento das GTAs tem sido um assunto sensível na indústria pecuária, pois os dados da guia podem ser interpretados para fins comerciais.
A JBS disse que as iniciativas anunciadas hoje buscam endereçar apenas os problemas relacionadas à Amazônia, e que suas metas de ESG são ainda mais amplas.
Tomazoni disse que a empresa fará ainda este ano seu primeiro ‘Investor Day’ focado apenas em ESG, quando vai divulgar todas as suas políticas de sustentabilidade.