“Sem graça, ainda bem”. Foi assim que analistas receberam agora à noite o resultado do Itaú do segundo trimestre.

O lucro cresceu 13,9% ano contra ano e chegou a R$ 8,7 bilhões, pouco acima do consenso. Em termos nominais, foi o maior resultado trimestral do banco.

O retorno sobre o patrimônio (ROE) ficou em 20,9%, 0,1 ponto acima do mesmo tri do ano passado.

A surpresa positiva veio da Rede, que se tornou a maior adquirente do País com R$ 208 bilhões em valor transacionado – acima da Cielo pela primeira vez.

As receitas de adquirência cresceram 22% em relação ao segundo trimestre de 2022, para R$ 1,2 bilhão.

No segmento de crédito, os números sugerem que a inadimplência está num platô pelo segundo trimestre consecutivo. “O NPL tem cara de estabilidade,” diz um analista que cobre o banco.

A inadimplência total ficou em 3%, apenas 0,1 ponto acima do primeiro tri e do resultado de dezembro.

A inadimplência no Brasil – que exclui a operação do Itaú em outros países – ficou em 3,5%, um aumento também de 0,1 ponto nos dois períodos.

Mas houve aumento nas provisões, que chegaram a R$ 9,6 bilhões, uma alta de 6,7% frente ao primeiro tri e de 23% em relação ao mesmo período de 2022.

A ‘NPL creation’ total (o surgimento de novos empréstimos com problemas) ficou estável, mas a do varejo subiu cerca de 9% para R$ 8,6 bilhões.

Segundo o Itaú, isso se deve à sazonalidade do segundo trimestre – dado que as despesas one-off do início do ano (pagamento das compras de Natal, matrículas escolares e IPVA) transbordam para o período de abril a junho.

Apesar da maior provisão e do pequeno crescimento da carteira de crédito (1,3% tri contra tri excluindo a variação cambial), o Itaú conseguiu ampliar a margem com clientes em 3,7%.

O banco foi mais conservador nos empréstimos – priorizando pessoas físicas de alta renda e médias e grandes empresas – mas conseguiu obter spreads mais altos desse público, melhorando a margem.

O ponto negativo foram as receitas com prestação de serviços e seguros, que ficaram praticamente estáveis no trimestre e cresceram apenas 4% no semestre.

O maior recuo, de 16% no semestre, ocorreu nas receitas ligadas ao mercado de capitais, com corretagem, emissões de ações e dívidas – mas a atividade pode se recuperar na segunda metade do ano com a queda dos juros.

Um problema mais perene está nas receitas com serviços de conta corrente e administração de fundos, que vêm caindo há meses: a baixa foi de cerca de 10% no semestre (no trimestre, em relação ao mesmo período de 2022, as receitas de administração de fundos chegaram a cair 19%).

“Esse é um grande desafio não só para o Itaú, mas para os grandes bancos: como gerar receita com o aumento da concorrência,” diz um analista.

A contribuição positiva no lado das receitas de serviços veio de seguros, com crescimento de 14% no semestre e 17,5% no segundo tri frente ao mesmo período de 2022.

Dados os desafios, o Itaú revisou o guidance de crescimento da receita de serviços. O banco agora espera crescer essa linha entre 5% e 7% este ano, contra um intervalo anterior de 7,5% a 10,5%.

Mas ao mesmo tempo, o banco manteve a maior parte dos demais guidances, incluindo a margem financeira com clientes e com o mercado e o custo de crédito.