Três blocos de ações envolvendo três empresas  movimentaram quase R$ 1,7 bilhão no pregão de hoje, sugerindo uma melhora da liquidez liderada pelo investidor internacional.

O maior deles foi um bloco de cerca de R$ 1 bilhão em ações da C&A Brasil, negociado no final do pregão. Na operação, 21% do capital da companhia trocou de mãos. 

A família Brenninkmeijer — que controlava a C&A com 52% do capital por meio da holding Cofra – vendeu 66 milhões de ações. Com a venda, a família está abrindo mão do controle, ficando com uma fatia de 31% da varejista. 

O block trade, coordenado pelo Itaú BBA, saiu a R$ 15,48, um desconto de cerca de 9% em relação ao preço do papel quando o leilão começou (R$ 17). O banco havia dado garantia firme nos R$ 15,47.

Essa é a segunda vez que os Brenninkmeijer fazem uma venda grande de C&A. Em novembro de 2024, o controlador já havia vendido 13% do capital.

A família não pretende se desfazer de toda sua posição na C&A, e terá um lockup de seis meses para novas vendas, uma fonte a par do assunto disse ao Brazil Journal

Segundo esta fonte, a venda foi feita para aumentar o free float e a liquidez do papel para que a ação entre no radar dos investidores estrangeiros, fechando o gap de múltiplo que ela tem em relação a Lojas Renner.

A C&A negocia a 8x seu lucro estimado para o ano que vem, enquanto a Renner negocia a mais de 10x. 

“O gringo quer um papel que negocie pelo menos uns US$ 10-15 milhões por dia. Com essa venda, o papel já deve passar disso, indo para uns US$ 18 milhões a US$ 20 milhões,” disse a fonte. 

Cerca de metade do bloco foi comprado por investidores estrangeiros, com dois deles respondendo por 25% da transação. O restante foi pulverizado entre fundos long only locais. 

Outro benefício da venda é que ela deve levar a um rebalanceamento da participação da C&A no MSCI Small Caps, já que a regra do índice é que quando há uma venda de mais de 10% do capital por um investidor que não faz parte do free float isso leva um rebalanceamento imediato. 

A estimativa de investidores é que isso gere um fluxo para o papel de US$ 30 milhões a US$ 40 milhões de fundos passivos que seguem o índice. 

O segundo maior bloco do dia foi o de Eneva, que movimentou R$ 400 milhões (17 milhões de ações), cerca de 1% do capital da companhia. 

A venda também foi intermediada pelo Itaú BBA, que havia dado garantia firme nos R$ 20,80, o mesmo preço em que a operação saiu e em linha com o preço de tela. 

Mais da metade do bloco (55%) foi comprado por dois investidores estrangeiros e o restante foi vendido para quatro fundos locais. Não está claro quem foi o vendedor. 

No terceiro bloco do dia, a GP Investimentos reduziu pela metade sua posição no Grupo SBF – dono da Centauro e da Nike Brasil – e agora ficou com 5,1% do capital da varejista de produtos esportivos.

A operação movimentou R$ 182,4 milhões. A GP vendeu 12 milhões de ações a R$ 15,20 cada, e se impôs um lockup de 60 dias para novas vendas. 

O papel fechou o dia a R$ 14,99, uma queda 4,22%

A corretora do BTG Pactual intermediou a operação. 

A GP entrou no Grupo SBF em 2012, pagando R$ 450 milhões por 30% do capital. Em 2019, o IPO avaliou o negócio em cerca de R$ 2,5 bilhões. Hoje a empresa vale R$ 3,76 bilhões e negocia a 7,5 vezes lucro. 

Em abril, Gustavo Furtado, que está na empresa  desde 2013, assumiu como o novo CEO. Ele foi escolhido pela GP e pelo fundador Sebastião Bomfim – que tem 40,8% do capital – para substituir Pedro Zemel, que comandou o grupo por nove anos.

Enquanto a GP se distancia da companhia, nos últimos meses Bomfim tem estado mais presente no dia a dia. 

“Ele está visitando lojas, participando das discussões. A empresa está voltando a focar mais na operação da Centauro que, na visão dele, ficou um pouco esquecida na gestão Zemel, que colocou mais atenção na Nike Brasil,” disse um gestor que acompanha o papel. 

A saída da GP do investimento está ligada aos prazos de seu fundo de private equity. 

Os três blocos do dia sugerem uma volta gradual da liquidez e “um interesse maior dos estrangeiros pelo Brasil, principalmente em small caps, que estão negociando com descontos grandes,” disse o executivo de um dos bancos envolvidos. 

As operações também mostram que os block trades tem se consolidado como um mecanismo importante no mercado. 

“Os blocos têm uma agilidade muito maior que os follow-ons, o que às vezes é positivo tanto para o vendedor quanto para o comprador,” disse a fonte. “Se o investidor está montando uma posição para aproveitar o movimento de alta do Brasil, ele vê nos blocos uma forma oportunística e mais rápida de fazer isso.”