O IPO da Decolar.com fez jus ao nome da empresa.

A maior agência online de viagens da América Latina precificou suas ações no topo da faixa indicativa de US$ 23 a US$ 26 por ação, avaliando a companhia em cerca de US$ 1,7 bilhão e criando um (raro) unicórnio na região.  

Fontes da operação disseram que as ordens chegaram a 10 vezes o tamanho da oferta.

O papel estreia amanhã na Bolsa de Nova York sob o ticker ‘DESP’ — de ‘Despegar.com’, a marca que a empresa usa em toda a América Latina exceto o Brasil. 

Ao todo, a oferta somou pouco mais de US$ 330 milhões, dos quais US$ 225 milhões vão para reforçar o caixa da companhia.

O principal acionista vendedor foi o Tiger Global, que, já contando a diluição, reduzirá sua participação de 57,3% para 43%.

Outros acionistas da companhia incluem a Expedia, com 16,4%, e a General Atlantic, com 5,4% (ambos os números são pré-diluição). 

Esta é a segunda investida do Tiger na América Latina a se listar na Bolsa neste ano. A outra foi a Netshoes, que estreou na Nyse em abril e, desde então, cai 25%. 

Conhecida pelos investimentos de VC em ativos online, a Tiger já investiu em empresas brasileiras como B2W, Hotel Urbano, Nubank e 99 Taxi. Lá fora, já investiu na Amazon, no Alibaba e na Priceline, a maior ‘online travel agency’ (OTA) do mundo em valor de mercado.

A Decolar.com opera em 20 países e é líder de mercado na região em reservas para viagens. A companhia vende passagens aéreas, hotéis, pacotes e serviços como aluguel de carros e recebe comissões sobre cada venda.

A concorrência é clique a clique.  Além da Decolar, o mercado de viagens online na América Latina é dominado por três players: o Booking.com (que pertence à Priceline), Expedia e Hotel Urbano. (A CVC, apesar de dominante offline, ainda não acertou sua estratégia online.)

Fundada há 18 anos, a companhia movimentou US$ 3,3 bilhões em vendas, faturou US$ 411 milhões e lucrou US$ 17,8 milhões no ano passado. A venda de passagens aéreas — que no Brasil ainda permite margens de 8%, contra 2% nos EUA e Europa — responde por 50% do faturamento líquido da empresa.

Apesar da maior parte do continente conhecer a companhia como Despegar.com, ela fala principalmente português: 41% das transações feitas no ano passado vieram do Brasil; outros 25%, da Argentina. 

Depois de ver seu faturamento estagnado em 2015 e 2016, o Decolar está tendo um ano melhor. No primeiro semestre, a receita líquida foi 28% a mais que no ano passado, e o lucro, US$ 18,8 milhões.

A Euromonitor estima que o mercado de reservas para viagens online deve crescer 12,5% ao ano até 2020 na América Latina, chegando a US$ 47,6 bilhões. Em 2016, o segmento movimentou US$ 30 bilhões, o que dá um market share de 11% para a Decolar.

Enquanto nos Estados Unidos e na Europa cerca de 50% das reservas para viagens são feitas pela internet, na América Latina esse percentual é de 23%. 

Ao preço do IPO, o valor de mercado da Decolar é praticamente o mesmo que a Expedia pagou para entrar na companhia em 2015 — mas a Expedia garantiu para si o direito exclusivo de fornecer inventário (principalmente hotéis) fora da América Latina. Na época, a Expedia comprou 16% por US$ 270 milhões. 

Segundo a corretora argentina Delphos, a ação foi precificada a um múltiplo de EV/vendas de 3,1x.  Para efeito de comparação, a Priceline negocia a 7x e a chinesa Ctrip, a 8x.

Os coordenadores da oferta foram Morgan Stanley e Citigroup; co-managers são Itaú BBA, UBS Investment Bank, Cowen, e KeyBanc Capital Markets.