A IKJ Capital — uma gestora de venture capital fundada por um ex-sócio da BR Partners — acaba de fazer o first closing de seu segundo fundo, que vai replicar a mesma estratégia do primeiro: investir em startups de saúde no Brasil e Estados Unidos.

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O fundador Enrico Carbone baseou a tese de investimentos da gestora em três temas.

O primeiro é a longevidade. A tese da IKJ é de que as pessoas estão vivendo mais, mas não necessariamente melhor. “Desde a década de 80, as pessoas adicionaram 20 anos de vida, mas a parcela que elas passam com uma boa saúde permaneceu inalterada,” disse o gestor. “Nossa ideia é investir em tecnologias que prolonguem a qualidade de vida.”

O segundo tema é a prevenção e controle de doenças crónicas, e o terceiro, a saúde mental. Enrico resume essa tese de forma simples: “Não faz sentido viver 120 anos se você desenvolver depressão com 60 anos, ou Alzheimer ou Parkinson.”

A gestora levantou US$ 6 milhões para o IKJ Health Innovation II, e pretende chegar a US$ 15 milhões nos próximos meses.

O fundo já fez seu primeiro investimento: entrou na rodada seed da Inulox, uma startup de Palo Alto que está desenvolvendo uma enzima que converte o açúcar em fibra dentro do intestino. Essa enzima — que ainda está em fase de testes e precisa das aprovações do FDA — poderá ser adicionada em qualquer alimento para reduzir a absorção de açúcar pelo organismo.

No primeiro fundo, a IKJ investiu em 18 startups (nove no Brasil e nove nos Estados Unidos) e já fez duas saídas bem sucedidas.

A gestora foi um dos primeiros cheques da Prairie Health, uma startup de saúde mental. A saída do investimento veio na venda para um estratégico: a Prairie foi comprada pela Carbon Health, uma outra startup que recebeu um investimento de US$ 100 milhões da rede de drogarias CVS no início do ano.

A IKJ também investiu na rodada seed da Interactive Health, que depois levantou uma Série B de US$ 150 milhões com a J&J e a Eli Lilly.

No Brasil, a IKJ investiu em startups como a Zenklub, Mevo, Alice e a Genial Care, que ajuda a fazer a gestão de pacientes com autismo.

Enrico se mudou para o Palo Alto em 2018 depois de passar mais de 15 anos na área de investment banking, 10 deles na BR Partners.

“Eu vim buscando algo com mais propósito, e Stanford tem uns cursos muito bons para isso,” disse ele.

Por indicação de Fred Trajano, do Magalu, Enrico se matriculou na Graduate School of Business de Stanford, onde o lema do curso é ‘change life, change organizations and change the world’. A minha ideia era ter a experiência, ficar um ano e voltar. Mas eu trouxe minha família e acabamos ficando.”

O gestor disse que aproveita lições aprendidas no investment banking no venture capital, mas que há uma diferença enorme entre os dois universos.

“No IB você sabe muito rápido se as coisas que você está fazendo estão certas, porque tem o bônus no fim do ano. No VC, você só vai saber se fez as coisas direito em 10 anos,” disse ele. “Obviamente que tem as saídas e os rounds, que mostram que você está na direção correta. Mas os ciclos são muito mais longos. E no venture capital, você também tem que tomar as decisões com um set de informações bem mais limitado.”

Outro desafio na transição de carreira foi se estabelecer como um imigrante e outsider num mercado extremamente competitivo. “O ponto mais importante é ter acesso. E depois ter certeza de que você não está sofrendo uma seleção adversa, em que as startups que estão chegando a você são só aquelas que não conseguiram captar com os fundos de primeira linha.”

Ele disse que resolver essa equação foi mais difícil no primeiro fundo, mas que agora a gestora já tem acesso de três formas: dentro das universidades, se inserindo no ecossistema de professores e pós-graduados; com os fundadores das investidas, que recomendam outros empreendedores; e com fundos que a IKJ já investiu junto, que também chamam a gestora para compor as rodadas.

“No Brasil é mais fácil. Quando você é um fundo focado apenas em saúde, as startups de saúde naturalmente vão te procurar porque existem poucas alternativas.”