Quando se trata da Petrobras, tanto Bolsonaro quanto Lula reclamam de barriga cheia.

Isso é o que sugere um cálculo feito pelos analistas do Bradesco BBI, que mostra que, nos últimos 10 anos, o retorno total do Estado brasileiro com a Petrobras foi 15x maior que o dos acionistas minoritários.

Enquanto Brasília arrecadou R$ 1,4 trilhão em impostos e dividendos da estatal, os acionistas minoritários receberam R$ 94 bilhões em dividendos, e os detentores de títulos de dívida receberam R$ 177 bilhões em juros.

A União e o BNDES têm juntos apenas 36,6% do capital total, apesar de a União controlar a empresa com 50,3% do capital votante. Os minoritários têm 63,4% da empresa – mas vivem aterrorizados pelo Governo.

“Os acionistas não tiveram quase nenhum ganho de capital nos últimos dez anos, já que as ações da Petrobras performaram 50% pior que o Ibovespa e abaixo do desempenho do preço do Brent e do CDI,” escreveram os analistas. “Resumindo, parece que o retorno relativo dos acionistas minoritários foi negativo.”

O cálculo do Bradesco vem num momento em que as discussões sobre controle de preços na Petrobras começam a ganhar força — em parte pelo anúncio recente de dividendos recordes da empresa em meio a uma alta expressiva do preço da gasolina.

Para os analistas, no entanto, mudar a política de preços da Petrobras seria um tiro pela culatra para as contas públicas — já que geraria menos dividendos e recolhimento de impostos.

“Além disso, o prêmio de risco dos investidores para alocar dinheiro no Brasil poderia subir, aumentando os custos de modo geral para todos os produtos e serviços.”

O Bradesco também nota que os investidores ainda não se recuperaram totalmente dos escândalos de corrupção da Petrobras e que qualquer derrapada “pode resultar em novas class actions contra a empresa e seus executivos.”

(Anotou, TCU?)

Os analistas admitem que a solução para a alta dos combustíveis não é simples — mas dizem que há diversas saídas que não prejudicariam os acionistas minoritários da Petrobras.

“Subsídios temporários (iguais aos introduzidos em 2018 após a greve dos caminhoneiros) e vouchers de combustível (introduzidos mais recentemente) parecem ser possibilidades amplamente aceitas pelos investidores, legisladores e pela sociedade,” escreveram.

A estimativa do Bradesco é que em 2022 o Governo Federal e os Estados arrecadem R$ 120 bilhões a mais em impostos da Petrobras por conta dos altos preços do petróleo e do aumento da atividade econômica em relação aos anos de pandemia.

“O Governo também poderia usar parte desses recursos (respeitando os limites fiscais) para políticas de bem estar social relacionadas à energia, ao mesmo tempo respeitando o direito dos acionistas minoritários.”