A Goldman Sachs refez as contas dos efeitos do ‘Trumponomics’ e agora vê chances mais concretas de os EUA entrarem em recessão.
A atualização do cenário ocorreu às vésperas do que o Presidente Donald Trump está chamando de ‘Dia da Libertação,’ em 2 de abril, quando a Casa Branca deve anunciar a imposição de tarifas recíprocas sobre as importações de todos os parceiros comerciais dos americanos.
O time macro do banco revisou de 20% para 35% o risco de o país ter uma recessão nos próximos 12 meses.
“Pela segunda vez em menos de um mês, estamos elevando nossas estimativas em relação às tarifas, e continuamos a acreditar que o risco das tarifas de 2 de abril são maiores do que o estimado por muitos participantes do mercado,” diz a Goldman no relatório.
Nos últimos anos, o time macro do banco foi firme em contestar as apostas da maior parte do mercado de que os EUA teriam uma contração na economia. Agora, entretanto, os analistas demonstram mais preocupação.
Segundo a Goldman, o PIB dos EUA deve encerrar o ano com um avanço modesto de 1%. O número reflete o impacto das tarifas, do combate à imigração e dos cortes nos gastos públicos. Tudo somado, essas políticas subtraíram 1,2 ponto percentual do crescimento anual esperado.
Trump anunciará impostos de importação cuja média ponderada será de 15%, estimam os analistas. Isso deixaria a política tarifária americana próxima das existentes hoje no Brasil e na Índia, dois dos países mais protecionistas do mundo. Mas, de acordo com banco, haverá exceções para algumas mercadorias e alguns países, o que reduzirá a carga final do tarifaço.
A expectativa para a inflação foi elevada de 3% para 3,5%, considerando como referência o índice preferido do Federal Reserve, o personal consumption expenditures index (PCE). É um número bem acima da meta de 2% – acima até mesmo do centro da meta brasileira, de 3%.
Ainda assim, a freada na economia deverá levar o Fed a fazer três cortes nos juros ainda este ano, diz a Goldman – em julho, setembro e novembro.
A deterioração no cenário econômico fez o time de estratégia para renda variável rever para baixo – pela segunda vez neste mês – as estimativas para o desempenho do S&P500. Eles agora esperam uma queda de 5% nos próximos três meses, e não mais um índice andando de lado nesse período.
Para os próximos 12 meses, a expectativa agora é de uma alta de 6%, com o índice indo a 5.900 pontos. Antes, a Goldman projetava uma alta de 16%.
O preço-alvo para o fim do ano ficou em 5.700 – não muito distante de onde o índice está hoje, ligeiramente abaixo de 5.600. Antes da sequência de cortes, a estimativa era que o índice encerrasse 2025 em 6.500 pontos.
“Essas estimativas incorporam as revisões no crescimento dos lucros e nos valuations, refletindo uma base mais frágil de crescimento econômico, mais incertezas e maiores riscos de recessão,” disse o banco.