Pela primeira vez na história, um arquiteto negro foi reconhecido com o Pritzker – o Oscar da arquitetura, criado em 1979.
O premiado foi Diébédo Francis Kéré, um arquiteto africano que nasceu no interior de Burkina Faso, um país no oeste da África, e que fez a maior parte de seu trabalho no continente africano.
Kéré foi o 51º vencedor do prêmio, criado no final dos anos 70 por Jay Pritzker, o fundador dos hotéis Hyatt.
A escolha de Kéré foi inesperada – e deixou o próprio arquiteto surpreso.
“Você pode imaginar isso?,” ele disse numa entrevista à NPR. “Eu nasci em Burkina, num pequeno vilarejo que não tinha nem escola. Meu pai só queria que eu aprendesse a ler e escrever de forma bem simples porque então eu poderia traduzir ou ler as cartas para ele.”
Na premiação deste ano, a maioria das apostas apontava para o britânico David Adjaye – outro arquiteto negro que construiu o Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana em Washigton, DC, e o Centro Nobel da Paz, em Oslo.
Kéré tem um portfólio bem menos superlativo: seu escritório, com sede em Berlim, construiu principalmente escolas primárias e secundárias e hospitais em países carentes da África.
Neste momento, ele está projetando também um novo prédio do Parlamento de Porto-Novo, a capital de Benin.
Kéré está construindo o edifício inspirado numa árvore conhecida como Palaver, que é um símbolo africano de consenso.
“Essa é uma árvore onde as pessoas se reúnem para tomar decisões, para celebrar,” disse ele. “É um lugar onde você pode pensar junto e onde todo mundo pode fazer parte do debate ou da discussão.”
Kéré disse que sua prática arquitetônica se alimenta de sua própria experiência frequentando salas de aula com mais 100 crianças em regiões onde o calor chega facilmente a 40 graus.
“Você sentava e era muito quente lá dentro,” ele disse à NPR. “E não tinha luz nenhuma, enquanto lá fora a luz do sol era abundante… na minha cabeça foi crescendo a ideia de que, quando eu fosse adulto, eu tinha que fazer aquilo melhor. Eu estava pensando em espaço, nos ambientes, em como eu podia fazer para me sentir melhor.”
Em seus projetos para as escolas Gando e Naaba Belem Goumma, Kéré diz que usou materiais tradicionais locais – como argila misturada com concreto – e buscou enfatizar as sombras com espaços bem ventilados que reduzissem a necessidade de ar condicionado.
Seu objetivo era criar prédios que lembrassem a ideia de um oásis e permitissem que “muitas e muitas crianças fossem felizes e aprendessem a ler e escrever.”
O júri do Pritzker disse que Kéré “sabe que a arquitetura não é sobre objetos, mas sobre objetivos; não é sobre produtos, mas sobre processos.”
“A arquitetura de Francis Kéré é pioneira – sustentável para a terra e para seus habitantes – em terras de extrema escassez,” disse Tom Pritzker, o chairman do comitê do prêmio. “Ele é igualmente um arquiteto e um servidor, melhorando a vida e as experiências de inúmeros cidadãos numa região do mundo que é muitas vezes esquecida.”