A Selic está subindo, os juros de longo prazo estão nas alturas e o mercado se preocupa com o quadro fiscal.
Apesar disso tudo, as vendas de imóveis na cidade de São Paulo seguem batendo recorde – especialmente no segmento destinado à classe média.
Para o Itaú BBA, o atual cenário era difícil de se imaginar há dois anos, quando boa parte dos investidores se livraram das ações de incorporadoras voltadas para a classe média, imaginando que as vendas despencariam após a alta dos juros.
“Desde o fim de 2022, os níveis de estoque caíram continuamente de cerca de 19 meses para aproximadamente 11 meses atualmente, e a velocidade de vendas está melhor do que o esperado, em cerca de 50% hoje (contra aproximadamente 40% na época),” escreveram os analistas dos times de real estate e de macro do Itaú BBA.
Mas como explicar isso? Para o banco, uma importante parte da resposta está na demografia: em especial devido ao crescimento populacional da chamada golden age – os adultos entre 35 e 40 anos.
“É nessa idade que a renda da pessoa atinge um nível mais alto e apresenta uma taxa de crescimento mais gradual a partir daí e é quando as pessoas se casam e, consequentemente, procuram uma residência,” escreveram os analistas.
Esse é um fator importante para a renda média do paulistano ter crescido de R$ 3,2 mil em 2012 para R$ 3,6 mil atualmente – a despeito das duas graves crises econômicas durante o período.
O baixo nível de desemprego também ajuda. Hoje, o IBGE divulgou que a taxa de desemprego no trimestre encerrado em setembro recuou para 6,4%, o menor nível de toda a série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012.
Para completar, ao contrário do imaginado por parte dos especialistas no últimos anos, os bancos (ainda) não fecharam a torneira do crédito.
Para o Itaú BBA, é improvável que os ventos favoráveis ao setor mudem no curto prazo. Segundo os analistas, o crescimento da golden age deve continuar, assim como a renda média deve aumentar e o desemprego deve demorar a se deteriorar antes de atingir um nível preocupante.
O banco também não vê sinais significativos de desaceleração – já que todos os números melhoraram mesmo com um grande número de lançamentos e aumento dos preços.
Diante desse cenário, os analistas do banco enxergam que a Cyrela pode ser a ação que mais pode se beneficiar desse momento – e reiterou a recomendação de compra para o papel.
Segundo os analistas, a construtora da família Horn negocia a um múltiplo P/B de 0,96x e a 5,6x o lucro para 2025.
“Vemos a Cyrela como uma boa escolha para quem busca uma exposição maior ao beta com uma ação de posição leve,” escreveram os analistas, que veem a Cyrela apresentando resultados melhores do que o esperado.
Para eles, a construtora vem apresentando um ritmo constante de lançamentos e níveis saudáveis de estoque, o que melhora a assimetria de lucros para 2025 e dá “um certo nível de conforto em relação aos resultados de curto prazo”.