Num resultado que pode ser ‘bullish’ para a Centauro, a Nike divulgou números atléticos ontem à noite, mostrando que a marca continua livre, leve e solta, e se recuperando a passos largos da pandemia.
 
Depois do fechamento de Nova York, a ação, que já estava na máxima histórica, ganhou mais 13% para US$ 132.  
 
A companhia agora vale US$ 205 bilhões — quatro vezes a Petrobras, nossa maior estatal.
 
Depois de perder dinheiro no trimestre anterior e anunciar um guidance que assustou o mercado — na época, fazendo a ação cair 7% — a Nike claramente underpromised e overdelivered no trimestre que terminou em 31 de agosto.

 
As vendas online explodiram — alta de 82% — depois de crescer 75% no trimestre anterior, uma prova de que a estratégia direct-to-consumer da companhia continua a dar frutos suculentos e está se firmando como referência na indústria.  (As vendas DTC da marca sobem dois dígitos há três anos consecutivos.)
 
Com vendas de US$ 10,6 bilhões, a receita no trimestre deixou a média dos analistas comendo poeira em US$ 1,5 bilhão, com a China puxando para cima e a América do Norte para baixo.
 
As vendas na China cresceram 6%; o país está mais adiantado na recuperação da pandemia e o governo está estimulando as pessoas a se exercitar.
 
Já nos EUA, apesar de todas as lojas já estarem abertas no trimestre, o tráfego caiu por conta do lockdown em diversos estados, e a suspensão dos esportes profissionais deprimiu a venda de camisas de times. Resultado: as vendas na América do Norte caíram 2%.
 
Os estoques aumentaram 15% na comparação com o ano passado, mas encolheram 9% em relação ao trimestre anterior.
 
O lucro por ação (95 centavos) foi quase o dobro do consenso e um ganho de 10% sobre o trimestre (sem pandemia) do ano anterior.
 
O CEO John Donahoe disse que “neste ambiente competitivo, ninguém consegue acompanhar nosso ritmo de lançamento de produtos inovadores e a conexão profunda da nossa marca com os consumidores.”  
 
Há exatos dois anos, uma campanha da Nike com o jogador Colin Kaepernick alinhou a marca com a luta anti-racismo bem antes do assassinato de George Floyd este ano.  (Kaepernick havia se recusado a ficar de pé durante o hino nacional americano na abertura da temporada da NFL em protesto contra a brutalidade policial. A campanha da Nike cravou:  “Acredite em alguma coisa. Mesmo que isso signifique sacrificar tudo.”). A Nike lacrou e, para horror dos haters, está lucrando até hoje.
 
A alta do papel também empurrou varejistas como FootLocker e marcas de ‘athleisure’ como UnderArmor e Sketches no pregão estendido.
 
No Brasil, o resultado pode animar o mercado a olhar para a Centauro, que comprou a operação da Nike no País no final do ano passado — uma transação que ainda não fechou — e cujo papel negocia abaixo dos R$ 30 do follow-on de junho.
 
“Sempre dá pra fazer uma leitura positiva, mas vai depender da Centauro fazer a parte dela também,” disse um analista que cobre o papel. “Gerir marca é bem diferente de ser uma varejista multimarca.” 
 
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